Uma das dúvidas mais comuns de quem estuda a revista é: “Como podemos dividir as eras da revista?” – Claramente, a divisão de “Eras” não é um consenso já que não temos uma divisão oficial pela Shueisha ou pela próprio Weekly Shonen Jump. Para a revista é muito mais simples dividir por “Reinado” no qual se segue o período no qual um determinado editor-chefe guiou a revista. Contudo é inegável que a revista passou por períodos históricos importantes que podem ser divididos por eras.
Já li várias divisões diferentes, algumas sem nenhum sentido, como chamar o período de 1997 até 2020 de “Fase Heróica” unindo assim dois períodos com características totalmente distintas. Na minha opinião uma “Era” deve ter características únicas do seu tempo e deve ter um significado histórico importante para a revista. Para um determinado período ser considerado uma era alguns pontos devem ser respeitados como:
- Elementos únicos que representam aquele determinado período.
- Duração de tempo não inferior a 5 anos.
- Alteração substancial nos gêneros e características das obras lançadas.
É justamente por isso que depois de mais de 10 anos de estudo sobre a Weekly Shonen Jump que eu decidi trazer uma classificação que eu acredito que seja mais correta – essa classificação não difere quase nada daquelas utilizadas pela maioria dos sites japoneses e alguns ocidentais -, por isso não posso dizer que “inventei” essa divisão histórica, mas que juntei várias visões para formar uma mais coesa:
- Era Clássica
- Era de Prata
- Era de Ouro
- Era do Big 3 / Era do Renascimento
- Era da Nova Escola (“New School”)
- Era das Trevas
Era Clássica (1968 – 1978)
A Era Clássica durou 10 anos. É o período da criação da revista, no qual vemos o criador da revista Tadasu Nagano, comandando a Weekly Shonen Jump. Esse período temos a criação da estrutura da revista: A Supremacia do Questionário, o seu “lema” principal” e também temos os primeiros grandes sucessos da revista: Harenchi Gakuen, Otoko Ippiki Gaki-daishou, Mazinger Z, PlayBall, Gen Pés Descalços e muitos outros.
É um período comandado por séries mais simples, os “clássicos” dos mundos dos mangás – A revista, na época ainda comandada por Nagano, apostava muito nos “Gags “, nos mangás de esporte e evitava séries que retratavam a guerra de modo positivo ou emocionante, temática que para Nagano era muito sensível. Se vocês tiverem curiosidade de conhecer um pouco a primeira parte da Era Clássica, recomendo ler a minha matéria sobre o assunto ou assistir esse meu vídeo:
A segunda parte dessa “Era” também é muito importante. Temos a promoção de Yusuke Nakano que continua praticamente a mesma política do editor anterior. Muitos sites colocam quando chega Yusuke Nakano o começo da “Era de Prata” – e o Analyse It também realizava essa classificação – Contudo atualmente não acredito mais nessa divisão. Estudando bem a revista vemos que não tem diferença o suficiente entre a política do Nakano para aquela do Nagano, já que o Yusuke Nakano era o vice editor chefe do Tadasu Nagano e co-criador da Weekly Shonen Jump, por isso seria incorreto iniciar a “Era de Prata” com o segundo editor-chefe.
Início: Criação da Revista por Takeshi Nagano
Encerramento: Saída de Yusuke Nakano
Os 3 Pilares: Harenchi Gakuen, Otoko Ippi Gaki-Daishou e KochiKame (As três obras mais importantes desse período)*
Editores-Chefe: Tadasu Nagano (1968 – 1974), Takeshi Nakano (1974 – 1978)
*Uso de 3 pilares é simplesmente por motivos simbólicos, já que não existiam três pilares na época, é só para dizer quais foram as três obras mais SIGNIFICATIVAS para a Era.
Era de Prata (1978 – 1983)
A Era de Prata começa quando Shigeo Nishimura assumiu o controle da revista. Com Nishimura vimos uma mudança na gestão da revista, com o surgimento das “Levas de Mangás”, de séries mais longas, comédias mais modernas como Dr. Slump, obras de ação como Cobra e mangás de esporte com traços mais contemporaneos, como Captain Tsubasa. Diferente da gestão do Nakano no qual não podemos ver características únicas o suficiente para determinarmos uma nova “Era”, nesse caso vemos claramente várias características únicas.
O aumento de vendas também continuou, assim a Weekly Shonen Jump que estava saiu de 2.1 milhões em 1978 para 3.7 milhões em 1983. Mas mesmo assim a “Era de Prata” não deixa de ser, mesmo tendo características únicas, um período de transição: Entre a Weekly Shonen Jump clássica para uma mais moderna (para o período), que surgir justamente na Era de Ouro. Foi um período de grande sucesso que resultou no começo da popularização das obras “Shounen”.
Início: Chegada de Shigeo Nishimura
Fim: Lançamento de Hokuto no Ken
Os 3 Pilares: Captain Tsubasa, Dr. Slump e Cobra*
Editor-Chefe: Shigeo Nishimura (1978 – 1986)
Era de Ouro (1983 – 1996)
O mesmo Nishimura que “cria” a Era de Prata, também cria a “Era de Ouro”. Quando começa a Era de Ouro é sempre algo muito polêmico, mas eu gosto de dividir a partir de Hokuto no Ken, já que o mangá será o primeiro grande sucesso do gênero de “Battle-Shounen” como conhecemos hoje. A importância de Hokuto no Ken é enorme tanto para a revista quanto para o mundo dos mangás, se tornando o seu lançamento um marco histórico.
Como a “Era Clássica” que pode ser dividida em duas partes, eu também acredito que a “Era de Ouro” pode ser dividida em duas partes. A primeira sendo entre 1983 e 1988 – que é quando Hokuto no Ken termina e em Dragon Ball “Goku” se torna adulto -. A segunda parte é entre 1988 e 1996, quando vai terminar de uma vez por todas a Era de Ouro, com o encerramento de Slam Dunk, o último pilar dessa época. É inegável as características únicas desse período: Altas vendas (alcançando 6.5 milhões de cópias semanais), séries mais voltadas para o Battle-Shounen pancadaria, personagens musculosos e comédias que brincam justamente com esse padrão de beleza “Shounen”.
Tivemos três editores nesse período: Shigeo Nishimura (1978 – 1986), Hiroki Goto (1986 – 1993) e Nobuhiko Horie. Pretendo criar matérias e vídeos no qual comento a história desses editores, já que cada um deles teve a sua importância. Contudo, se vocês quiserem saber um pouco do encerramento da “Era de Ouro” recomendo ler a matéria “O Dia que Slam Dunk acabou” ou ver o meu vídeo da Retrospectiva de 1996, no qual comento com ainda mais detalhes sobre a situação da revista.
Inicio: Estreia de Hokuto no Ken
Encerramento: Fim de Slam Dunk
Os 3 Pilares: Hokuto no Ken, Dragon Ball e Slam Dunk
Editores-Chefes: Shigeo Nishimura (1978 – 1986), Hiroki Goto (1986 – 1993) e Nobuhiko Horie (1993 – 1996).
EVENTO: A Grande Recessão (1995 – 1997)
Com o encerramento de Dragon Ball e depois de Slam Dunk, a Weekly Shonen Jump passa por sua primeira grande crise, no qual a revista tem uma queda de vendas grande, perdendo 46% dos seus leitores em dois anos. Inicialmente eu chamava da “Primeira Grande Extinção”, mas eu acredito que esse nome não seja correto, já que a crise é causada pelo encerramento de três mangás importantes, mas vários outros conseguiram restar na revista. A “Primeira Crise” da Weekly Shonen Jump é uma situação inevitável: O trio Yu Yu Hakusho, Dragon Ball e Slam Dunk ajudaram a inflar as vendas da revista em números realmente jamais visto na história do mercado dos mangás.
E assim que esses mangás terminaram as vendas voltaram a números mais aceitáveis: Entre 3.5 e 4 milhões de cópias por semana, ao invés de 6.5 milhões. Durante esse evento de crise tivemos uma fase de transição no qual o recém-contratado Torishima reformulou por completo da revista, permitindo a entrada de novos mangás Battle-Shounen na “Era de Ferro” como One Piece, Hunter x Hunter, Naruto, Black Cat e Bleach. Esse período de Crise é protagonizado por três mangás Rurouni Kenshin, Hoshin Engi e Yu-Gi-Oh. E tem como semi-pilares Hareluya II Boy e Sexy Commando Gaiden, como vocês podem ver no vídeo abaixo no qual eu explico o que aconteceu nesse período.
Início: Fim de Dragon Ball e Slam Dunk
Encerramento: Estreia de ONE PIECE
Os 3 Pilares: Rurouni Kenshin, Hoshin Engi e Yu-Gi-Oh
Editores-Chefes: Kazuhiko Torishima (1996 – 2001)
Era do Big 3 ou Era do Renascimento (1997 – 2011)
Também conhecida como “Era Heróica” ou “Era do Big 3”, mas eu gosto de chamar “Era do Renascimento” – diferente das demais “Eras” não tem um consenso sobre como chamá-la -. Essa Era vemos a formação de vários Battle-Shounen que vão modificar completamente a estrutura da revista: A maioria dos mangás começam a durar mais de 8 e praticamente temos um monopólio dos Battle-Shounen como pilares. É por isso que é chamada de “Big 3” (antigamente Trio de Ferro), já que os três pilares (e em menor grau o quarto membro esquecido dos “Três mosqueteiros”, Hunter x Hunter) eram mangás de pancadaria com vendas altíssimas e com uma estabilidade muito grande, que sempre se configuravam juntos nas capas da revista.
Além do trio também tivemos outras séries importantes que dialogavam bem com Battle-Shounen ou era Battle-Shounen propriamente ditos: Shaman King (1998), Black Cat (2000), Bobobo-bo (2001), Gintama (2004), Katekyou Hitman Reborn (2004), D.Gray-man (2004), Muhyo to Rouji (2004), Psyren (2008), Nurarihyon no Mago (2008) e Toriko (2008). Também tivemos nesse período séries que não eram Battle-Shounen e mesmo assim venderam bem: Rookies (1998), Prince of Tennis (1999), Hikaru no Go (1999), Pyu to Fuku! Jaguar (2000), Death Note (2004), SKET Dance (2007) e muitos outros.
Início: Estreia de ONE PIECE
Encerramento: Chegado do Editor-Chefe Yoshihisha Heishi
Os 3 Pilares: One Piece, Naruto, Bleach
Editores-Chefes: Kazuhiko Torishima (1996 – 2001), Toshimasa Takahasi (2001 – 2003), Masahiko Ibaraki (2003 – 2008), Hisashi Sakaki (2008 – 2011)
EVENTO: Crise dos Novatos Battle-Shounen (2008 – 2014)
Contudo, Era de Ferro é vítima da sua própria estratégia de sucesso já que vai trazer em seu momento de crise uma baixa variação na Line-Up da revista, levando muitos leitores a se entediarem com as mesmas obras todas as semanas. A partir de 2008, com o lançamento de Toriko até 2014, os editores encontraram somente UM Battle-Shounen de sucesso. A verdade é que estilos presentes na revista não serem variados prejudicou a Shonen Jump e levou a uma SATURAÇÃO DO BATTLE-SHOUNEN, o resultado acabou levando a uma profunda crise no genêro, que não conseguia encontrar mais obras de sucesso e levou ao público a aprovar somente os novatos que traziam um conteúdo diversificado. Os elementos que transformam a Era de Ferro em um sucesso também mataram a Era de Ferro.
“A Crise dos Novatos Battle-Shounen”, preocupou tantos os editores que levou a revista lançar inclusive uma edição especial com SOMENTE ONE-SHOTS BATTLE-SHOUNEN para ver se encontrava um novo sucesso no gênero. Somente na “Era New School” com a mudança de política dos lançamento das séries que vemos a revista superando a sua crise de Battle-Shounen. World Trigger quebrou o gelo em 2013 e Boku no Hero Academia acabou com a “A Fase de Crise”.
Era “New School” (2011 – 2020)
E aí entramos na Era da Nova Escola, no qual o público cansado dos Battle-Shounen aprova vários sucessos seguidos de outros genêros: A comédia romântica Nisekoi (2011), o mangá de vôlei Haikyuu (2012), as comédias Ansatsu Kyoushitsu e PSI Kusuo Saiki (2012), o mangá de culinária (2012), a comédia Isobe Isobee Monogatari (em 2013) e o mangá de sumô em (2014). Tivemos somente um mangá Battle-Shounen dando certo, mas só veio engrenar mesmo a partir de 2014 foi World Trigger (2013). O primeiro grande sucesso no Battle-Shounen acabou sendo Boku no Hero Academia em 2014, após 6 anos sem nenhum Battle-Shounen de sucesso.
É muito complicado achar um nome para esse período (por isso escolhi “Nova Escola”), já que é um período de renovação completa por parte da revista. Com a chegada do novo Editor-Chefe Yoshihisa Heishi, o padrão antigo de “Séries eternas” e também o padrão de “Battle-Shounen” teve uma pequena mudança. Após em 2014 Boku no Hero Academia quebrar o gelo, vimos na segunda parte dessa “Era”, um misto entre Battle-Shounen e mangás variados: Black Clover (2015), Yuragi-Sou no Yuuna-San (2016), Kimetsu no Yaiba (2016), Yakusoku no Neverland (2016), Boku-tachi wa Benkyou ga Dekinai (2017), Dr. Stone (2017), Act-Age (2018), Jujutsu Kaisen (2018) e Chainsaw-man (2019)
Ainda tinhamos mangás Battle-Shounen, porém muitos também já migravam para temáticas mais “Dark”, como o começo de Kimetsu no Yaiba, Jujutsu Kaisen e Chainsaw-man, o “Dark Trio”. Até mesmo Boku no Hero Academia tenta se adaptar o padrão do mercado atual, que era de “Super-Heróis”. O sucesso World Trigger se aproximava mais do padrão “Jump SQ” do que do padrão “Shounen da Era do Renascimento”. O único mangá que poderia estar presente na Era anterior era Black Clover.
Esse período de renovação trouxe assim uma modernização completa na “Line-Up” da revista, mais adaptada para a realidade digital e da internet. Vimos na gestão de Heishi também a criação da Jump +, que só veio pegar força mesmo na gestão de Hiroyuki Nakano – que comandou a revista na segunda parte da “Era New School” entre 2017 e 2020. Foram 9 anos no qual voltamos a ver novos mangás vendendo horrores: Ansatsu Kyoushitsu, Jujutsu Kaisen e Kimetsu no Yaiba foram os mangás desse período que superaram 1 milhão de cópias vendidas em seus volumes e se tornaram sucessos gigantescos.
Início: Chegada de Yoshihisa Heishi em 2011
Encerramento: A Grande Extinção de 2019 – 2020.
Os 3 Pilares: Ansatsu Kyoushitsu, Boku no Hero Academia e Kimetsu no Yaiba.
Editores Chefes: Yoshihisha Heishi (2011 – 2017), Hiroyuki Nakano (2017 – Atualmente)
EVENTO: A GRANDE EXTINÇÃO (2019 – 2020)
Um segundo período muito importante é “A Grande Extinção”, no qual considero a terceira crise da história da revista: A revista teve alguns momentos problemáticos (2003 no qual não encontraram nenhuma nova série de sucesso ou até mesmo 2005 – 2007 no qual vimos sinais da saturação do Battle-Shounen, mas não eram crises reais). Também teve nos anos 80 problemas internos, com brigas pelo poder, mas não considero realmente crises. Na minha opinião essas são as três grandes crises da revista:
A Grande Extinção na minha opinião é a pior delas, pois a revista veio a perder em três anos praticamente toda a sua Line-Up: Shokugeki no Souma (2019), Hinomaru Zumou (2019), Boruto (2019), Haikyuu!! (2020), Kimetsu no Yaiba (2020), Yuragi-Sou no Yuuna-San (2020), Yakusoku no Neverland (2020), Act-Age (2020), Chainsaw-man (2020) e Boku-tachi wa Benkyou ga Dekinai (2020), sendo o ano de 2020 o pior ano que vi para a revista juntamente com 2016. Praticamente a Weekly Shonen Jump com sua política de deixar os autores livres para guiar como querem os mangás acabou tendo uma EXTINÇÃO EM MASSA das suas séries em 2020, levando a uma crise enorme na Line-Up e juntamente uma crise também no gênero Battle-Shounen.
Três séries foram essenciais para salvar a Weekly Shonen Jump em colapsar completamente: One Piece, Boku no Hero Academia e Jujutsu Kaisen, e tivemos como ajudantes importantíssimos também Dr. STONE e Black Clover. Esse evento praticamente decretou o FIM da “Nova Escola” e o começo de uma nova Era que ainda não temos um novo exato.
Era das Trevas ou Era Digital (2019 – Atualmente)
É complicado dar um nome já que é um evento que ainda está ocorrendo. Atualmente eu considero a pior fase da história da revista, mas pode ser que a Weekly Shonen Jump consiga se reerguer em 2024 com o anime de Sakamoto Days, e assim o nome mude de “Era das Trevas” para um outro nome. É também uma “Era” no qual a Shonen Jump migra cada vez mais para o “Digital”, com mangás de sucesso na sua plataforma Plus, por isso, também talvez venha a se chamar “Era Plus” ou a “Era da Digitalização”. Vai depender como vão ser os próximos anos, ainda é muito cedo para ter uma certeza sobre como será essa Era.