É estranho pensar que quando “Kuroko no Basket” terminou, nove anos atrás, eu já estava escrevendo aqui no Analyse It. Naquela época eu via a revista de um modo mais simples, mas também era bem mais jovem, tinha somente dezoito anos. Entretanto mesmo jovem, eu lia mangás a muito anos e por isso já comentava como “Kuroko no Basket” estava rapidamente se perdendo, tendo que colocar “super-poderes” para manter a obra interessante.
Os anos se passaram e em 2017 vimos Tadatoshi Fujimaki retornando com um mangá muito problemático, “Robot x Laserbeam”, que acabou não dando certo na revista. Tanto os últimos volumes de Kuroko quanto toda a obra de Robot carregaram defeitos que escancaravam as limitações narrativas de Tadatoshi Fujimaki no campo do esporte. Na dificuldade de entregar cenas realistas emocionantes, vimos que sua única estratégia era partir ao “absurdo” para assim poder desenvolver soluções narrativa intrigantes.
A verdade é que Tadatoshi Fujimaki é um autor de Battle-Shounen “disfarçado” de autor de esporte – a migração gradual de Kuroko no Basket para algo mais absurdo, mais “Shounen” era realmente uma caraterística narrativa na escritura estilo “Battle-Shounen” de Fujimaki. Isso, por exemplo, não vimos acontecer em Slam Dunk, pois Takehiko Inoue era um autor “Seinen” disfarçado. Eu não estou dizendo que Fujimaki não seja um bom autor de esporte, pois eu acho Kuroko no Basket um mangá espetacular e que mereceu ser um pilar da revista.
Essa sua tendência ao Battle-Shounen se tornou ainda mais presente em “Robot x Laserbeam” e na minha opinião acabou destruindo a obra; não exatamente por ter elementos Battle-Shounens, mas por tentar se disfarçar de mangá de esporte, ao invés de assumir a sua identidade exagerada, como “Tennis no Ouji-sama” assumiu em sua sequência, como “Blue Lock” assumiu desde o seu primeiro respiro.
Quando a Weekly Shonen Jump anunciou “Ao Kiru” logo pensei: “Talvez seja o momento de Fujimaki brilhar de novo”, uma obra Battle Shounen que combina com sua personalidade e vou dizer a vocês, as primeiras quinze páginas me agradaram muito. Fujimaki entrega uma rapidíssima, mas bem desenhada cena de ação e apresenta um protagonista com uma crise existencial que parecia genuina. O mangá era crível, mas eu não sabia que não podia continuar assim: Eu estava lendo a Weekly Shonen Jump e não a Weekly Young Jump.
Assim temos o PLOTWIST que leva o personagem a se tornar novamente um adolescente, de 12 ou 13 anos, como acontece nos piores (e melhores) filmes da Disney. E assim a obra migra para uma comédia no qual, sinceramente, entrega mais do mesmo. Um personagem “adulto” que volta para o colégio, é provavelmente o terceiro tema mais utilizado no mundo dos mangás, depois do Isekai e dos caçadores de demônios. Talvez o que seja mais novo em “Ao Kiru” é que ele não está voltando ao colégio, mas sim INDO PELA PRIMEIRA VEZ.
Incrível não é? Inovador, revolucionário, vanguardeiro.
Depois o modo que tudo acontece é muito parecido com Detective Conan, mas parecido até demais. É tão comum no mundo dos mangás uma obra “copiar” uma ideia da outra que nunca vi um mangá sendo acusado de plágio. É tão abrangente o conceito de “inspiração” no Japão que isso se tornou banal, mas não deixa de ser chato ver uma nova obra que traz um mesmo conceito, não apresentando nenhuma novidade. Simplesmente sendo só mais do mesmo.
Para piorar, o primeiro capítulo entrega o problema oposto do primeiro capítulo de “Tenmaku Cinema”. Enquanto o mais novo mangá de cinema apresenta um primeiro capítulo “morno” no qual tudo é desenvolvido lentamente, “Ao Kiru” tenta apresentar vários conceitos em poucas páginas. A questão é que um mangá é como uma sopa, você pode adicionar pouco a pouco o sal, até chegar na quantidade correta. “Tenmaku Cinema” teve um começo lento, mas pode com o passar dos capítulos MELHORAR a sua série, se autores forem adicionando corretamente a quantidade de sal. Mas “Ao Kiru” decidiu jogar o saleiro inteiro na sopa e não consegui sentir o gosto de nenhum ingrediente.
Por exemplo era realmente necessário colocar nas primeiras cinquenta páginas a questão do protagonista gostar de estudar? Não poderia deixar isso para um segundo capítulo e dedicar mais tempo para desenvolver a questão dele não estar conseguindo a se enturmar? Dando mais profundidade para essa problemática e também para as duas outras personagens secundárias que foram salvas. Eu acho importantíssimo para uma série saber condensar as informações no primeiro capítulo, tentando se concentrar em somente alguns elementos. Enquanto “Tenmaku Cinema” utiliza relativamente bem as suas 61 páginas – dando a sensação que eram realmente necessárias para a história, mesmo que tenha sido tudo muito regular – As 57 páginas de “Ao Kiru” pareceram mal utilizadas.
Contudo, “Ao Kiru” mesmo não me agradando, tem suas qualidades. A arte do Fujimaki continua sendo ótima, com a capacidade de entregar expressividade aos personagens. Eu gostei também da cena de ação nas últimas páginas e isso não pela “construção da tensão”, como eu já disse, o roteiro é ruim, mas por causa da arte mesmo. O seu traço e sua capacidade de desenhar movimentos, algo que já vimos em Kuroko no Basket, realça a série. Eu repito, eu acho que o Fujimaki seria um ótimo autor de Battle-Shounen.
Eu me decepcionei com “Ao Kiru”, não posso negar – na primeira leitura achei muito ruim, já que tudo parecia tão apressado e jogado na minha cara, que eu não estava conseguindo nem observar as suas qualidades latentes. Na minha segunda leitura consegui aproveitar um pouco mais das suas qualidades, mas o gosto salgado continuou a estragar a leitura. Ainda acho que “Ao Kiru” tem capacidade de melhorar, talvez se o autor acelerar um pouco menos nos próximos capítulos e se concentre em somente um elemento, mas antes de ler o próximo capítulo preciso beber um grande copo de água para tirar esse gosto horrível da boca.
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