No dia 17 de junho de 1996 saiu nas bancas de revista japonesas a Weekly Shonen Jump #27, o que deveria ser uma edição para comemorar o encerramento da primeira parte de um dos mangás mais importantes da revista, mas acabou sendo um momento histórico, uma edição iria decretar para sempre o “FIM DA ERA DE OURO” da Weekly Shonen Jump: O dia que Slam Dunk acabou.
Antes de discutirmos esse dia e suas consequências, vamos lembrar como se encontrava a revista em 1996: O ano de 1996 era um ano complicado para a Shonen Jump, pois após muitos anos de crescimento, o encerramento de Yu Yu Hakusho em 1994, Dragon Ball em 1995 e outras séries de segundo escalão, levaram a revista a sofrer uma queda em vendas, que somada a crise interna que começou em 1993 com a promoção de Nobuhiko Horie para Editor-Chefe da revista, trouxe uma sensação amarga nos primeiros meses daquele ano.
Entre 1968 e 1995, a Weekly Shonen Jump viu as suas vendas aumentarem ano após ano (com exceções de 1986), saindo de 105 mil cópias em circulação em 1968 para 6.5 milhões em 1995. O encerramento desses dois mangás (principalmente Dragon Ball) que eram considerados os “pilares” da revista, resultaram em uma redução de 10.7% nas vendas da magazine. A Weekly Shonen Jump perdeu 700 mil leitores entre 1995 e 1996, saindo de 6.5 milhões de cópias para 5.8 milhões. Tal redução deixou o conselho administrativo da Jump muito preocupado, principalmente quando viam no então Editor-Chefe, Nobuhiko Horie, uma figura incapaz de resolver essa problemática.
Mas ao mesmo tempo, o conselho tinha esperança que essa queda em vendas seria superada, pois o sucesso de Slam Dunk era espetacular: O volume 23 do mangá de basquete, lançado em março de 1995, um ano antes do encerramento da série, tinha batido o recorde de volume com a maior impressão inicial da história de um mangá, com 2.5 milhões de cópias. Recorde que veio a ser superado somente em 2002 pelo volume 24 de ONE PIECE. Tamanho sucesso era uma boa notícia para a Shonen Jump, que via na série de Inoue um pilar muito bem estabelecido. Parecia que tinham ainda muito tempo para encontrar o substituto de Dragon Ball.
E esse tempo para encontrar novos sucessos era importante para o conselho administrativo, pois tinha acabado de demitir, em Fevereiro de 1996, o editor-chefe Horie, para colocar no lugar alguém mais capaz de renovar a revista. Era por isso que o apenas promovido Kazuhiko Torishima contava tanto com Slam Dunk, era uma “ROCHA” no meio de uma revista instável – e foi sabendo da sua importância que o Editor-Chefe provavelmente decidiu dar capa para o mangá na Weekly Shonen Jump #27. Era um modo de comemorar o “encerramento temporâneo” e deixar claro que Slam Dunk iria voltar -. Porém, algo pegou de surpresa tanto os leitores quanto os editores: O encerramento de Slam Dunk FOI DEFINITIVO.
Deixa-me explicar bem essa história: Diferente do último volume da série, lançado em Outubro de 1996, a Weekly Shonen Jump #27 que trouxe o último capítulo de Slam Dunk tinha uma mensagem muito importante. Naquela edição, o capítulo 276 tinha escrito em suas páginas: “Fim da Parte 1”. Por isso, para muitos leitores e também para os editores, Slam Dunk não tinha terminado realmente. Estavam comemorando somente o encerramento da PRIMEIRA PARTE [1]. Mas, a realidade acabou sendo outra, no volume 31 essa informações foi RETIRADA e assim a série terminou de uma vez por todas. O encerramento repentino levou inclusive alguns leitores a pensarem por alguns dias que Slam Dunk poderia ter sido cancelado, pois, como era possível um mangá tão popular e tão bem construído, terminar do nada? É daí que nasceu a teoria, sem sentido, que a série “terminou por problemas de direitos autorais”.
Mas, na minha opinião, o encerramento de Slam Dunk não é tão repentino, mas é o resultado de uma série ter alcançado o seu ápice em qualidade e um autor percebendo que não tem como superar esse ápice, mesmo tendo espaço para continuar em um nível menor – como o próprio Takehiko Inoue comenta em algumas das suas entrevistas -. Só que isso não é algo que nem os editores e nem os leitores poderiam notar, era algo que somente o Inoue sabia, somente ele sabia que Slam Dunk, depois daquele jogo, não poderia nunca mais entregar uma partida tão boa quanto. E assim, mesmo sendo o mangá mais popular do mercado e mesmo com várias pontas em aberto, Slam Dunk veio a terminar.
Esse “encerramento” trouxe um grande reboliço na revista e jogou no ventilador todos os problemas de organização que a revista estava ignorando por causa das altas vendas. A prova que temos que a revista estava com sérios problemas internos são três:
- Em Fevereiro de 1996, o recém contratado Editor-Chefe Nobuhiko Horie tinha sido demitido por não estar conseguindo encontrar boas novas séries, não saber organizar as séries já presentes (por exemplo, não soube se preparar para o encerramento de Dragon Ball) e tinha uma terrível relação com o conselho administrativo.
- As entrevistas dos editores reclamando das últimas gestões da revista e a carta aberta do Ex Editor-Chefe, Nishimura, que denunciou a terrível organização da revista nos regimes que sucederam o seu “governo”.
- O Fato que Slam Dunk terminou com CAPA (algo que nunca tinha acontecido com nenhuma série) e esse encerramento estar comemorando “O Fim da Parte 1”. Levando em consideração que a revista não anunciou e nem se preparou para a conclusão definitiva da obra, e sim para a conclusão da sua primeira parte, indica que o apenas contratado Editor-Chefe Toshimura não tinha conhecimento desse encerramento definitivo, algo parecido com Dragon Ball.
As vendas da revista despencaram depois do dia 17 de Junho de 1996 e depois que caiu a “FICHA” em outubro que Slam Dunk não retornaria. A Weekly Shonen Jump que vendeu 5.8 milhões de cópias em 1996, vendeu somente 4 milhões de em 1997, perdendo assim 1.8 milhões de leitores, uma redução de 31% do seu público. Assim, a Weekly Shonen Jump #27 se tornou um marco para o mundo dos mangás, pois marca o encerramento da “Era de Ouro” da Weekly Shonen Jump, que nunca mais veio a vender acima de 4 milhões de cópias, por isso perdendo no total desse período 2.9 milhões de leitores (44% do público).
Muitos leitores não estavam mais interessados em continuar a ler a maior revista Shonen. Não tinha mais Yu Yu Hakusno, não tinha mais Dragon Ball, não tinha mais Slam Dunk e Dragon Quest viria a terminar em dezembro de 1996. Rurouni Kenshin era interessante e o Hoshin Engi que estreou na WSJ #28 era até promissor, mas para uma parte do público, não compensavam. O dia 17 de Junho de 1996, deste modo, deprimiu muitos leitores e acabou sendo um grande punho no estômago da Shonen Jump, que viu o seu reinado ruir.
Mas também marcou o momento da renovação desse mesmo reinado, já que Torishima com o encerramento de Slam Dunk uma possibilidade de renovar a revista. Era o momento de virar a mesa e começar a re-organizar do ZERO a revista, com novos mangás, com uma nova logo, com uma nova organização.
E assim o revolucionário Torishima deu início a “Época de Ferro” no qual lançou várias séries de sucesso, incluindo ONE PIECE, Naruto, Bleach, Hunter x Hunter, Hikaru no Go, Yu-Gi-Oh, Tennis no Ouji-sama, e muitos outros, conseguindo assim estabilizar a revista em boas vendas e entregando para o editor sucessivo, em 2001, uma Weekly Shonen Jump muito mais organizada e saudável.
TOC Weekly Shonen Jump #27 (17 de Junho 1996)
Slam Dunk c276 (Capa, Página Colorida de Abertura e Fim da Primeira Parte)
1 – KochiKame c977
2 – Rurouni Kenshin c104
3 – BOY c171
Makuhari c16 (Página Colorida)
4 – Higoku Sensei Nuubee c135
5 – Sexy Commando Gaiden c25
6 – Rokudenashi Blues c390
7 – Midori no Makibao c75
8 – Wild Half c22
9 – Majima-Kun Suttobasu!! c64
10 – Capitain Tsubasa: World Youth Saga c105
11 – Dragon Quest: Dai no Daiboken c320
12 – Jojo’s Bizarre Adventure c463
13 – Tottemo! Luckyman c137
Diamond c6
K.O. Masatome c5
14 – Jinkoen-dan Shinshiroku c15
15 – Mizu no Tomodachi Kappaman c32
16 – Osama wa Roba c109
¹ – Sobre o encerramento de Slam Dunk ter sido anunciado como a primeira parte é uma informação que eu encontro em vários sites japoneses, deixei um deles na análise para vocês consultarem. Deixei na TOC como “Fim da Primeira Parte”, pois é como tinha sido anunciado na revista na época.