A nova leva ainda não estreou, contudo, os editores já começaram a cancelar os mangás para dar lugar aos novas obras que cedo ou tarde virão. E uma das vítimas da “guilhotina editorial” acabou sendo justamente PPPPPP, que encerrou a sua jornada com 70 capítulos e um pouco mais de um ano de vida. O mangá escrito e desenhado por Mapollo 3, conta a história de Lucky, filho de um dos maiores pianistas da história (Kuon Otogami) no universo em que se passa o mangá. Lucky, porém, diferente do seu pai e dos seus outros seis irmãos, não herdou esse grandioso talento para o piano, mas mesmo assim sonha em se tornar um grande pianista.
O mangá foi cancelado cedo, mas não tão cedo assim, o que pode levar algumas pessoas a questionarem o motivo pelo qual tal a série acabou sendo cancelada. Pode se questionar o motivo pelo qual os editores decidiram não dar continuidade a série mesmo vendendo praticamente a mesma quantidade de Yozakura-San e Undead Unluck, dois mangás que já completarem três anos na revista. E vendendo mais que Boku no Roboco, que também está caminhando para o seu aniversário de três ano (em junho desse ano).
A resposta são argumentos pontos que se unem em um argumento só, que são “As suas vendas não foram o suficientemente altas para se manter na verdade” e “Sua popularidade interna não compensava as baixas vendas”, mas isso serve para praticamente quase todas as séries novatas canceladas, com raras exceções. O que nos devemos pergutar é o PORQUÊ de PPPPPP não ter convencido em vendas e o PORQUÊ de não ter mantido ao longo dos seus capítulos a boa popularidade interna inicial.
E é isso que eu tentarei responder nessa análise:
PPPPPP vendia mal?
O primeiro ponto que temos que resolver é se PPPPPP estava realmente vendendo mal ou é foi caso como Illegal Rare ou Phantom Seer, duas obras que foram canceladas com boas vendas. Para responder essa dúvida devemos olhar o gráfico abaixo, que mostra a evolução das vendas de PPPPPP:
Como podemos ver, PPPPPP começa vendendo 12 mil cópias em 1 mês, um resultado relativamente baixo, similar a estreia de obras como Cypher Academy e Sakamoto Days. Quando um mangá vende nesse “range” o que acaba salvando a série é mais a recepção interna. Caso o mangá tenha uma boa recepção interna os editores salvam, caso seja ruim, acabam cancelando. PPPPPP agradou um bom grupo de leitores da revista nos seus primeiros capítulos, o que acabou justificando a sua salvação mesmo vendendo somente 12 mil cópias no primeiro volume.
Os volumes seguintes tiveram um bom aumento em vendas. O volume 2 teve um aumento de 33% em vendas comparado ao anterior, vendendo assim 16 mil cópias em 1 mês. O terceiro volume continuou com um ótimo ritmo de crescimento, aumentando em 62% as vendas, alcançando a marca de 26 mil cópias em um mês. Porém a partir do quarto volume, as vendas da série simplesmente se estagnaram em 29 mil cópias.
Eram vendas ruins? Bem, antes de tudo temos que entender que o conceito de sucesso é RELATIVO ao contexto – E é importante sempre dividir entre “sucesso interno”, “sucesso comercial” e “sucesso absoluto”. Os três não são iguais: Sucesso interno é o rendimento de uma determinada série dentro da revista que se encontra. Devemos nesse caso avaliar o número de vendas do mangá em comparação aos seus companheiro de revista e também avaliar a posição na TOC e comentários nos fóruns para entender a recepção interna – assim podemos concluir se a série é um sucesso interno. Vender 8 mil cópias em uma Ultra Jump é um bom resultado, enquanto vender 8 mil cópias na Weekly Shonen Jump é digno de cancelamento
Já sucesso comercial é avaliado através do rendimento de uma determinada série em comparação ao mercado dos mangás atual. Nesse caso, se deve avaliar as vendas fisicas e digitais da obra em relação a todo o mercado, além de tentar chegar a uma estimativa do seu impacto internacional e também do sucesso dos seus produtos derivados (animes, merchandising, peças teatrais e etc). Nesse caso é útil pegar os dados do Ranking Oricon, Ranking Oricon e das cópias em circulações dos maiores mangás do mercado. Avaliar quanto um mangá vende na atualidade, para poder entender a dimensão do público comprador, e assim entender quanto é necessário uma obra vender para ser considerada um sucesso comercial.
Por fim temos o conceito de “sucesso absoluto” que é avaliado observando o rendimento de uma série em comparação a todos os mangás já lançados na história. É necessário levar em consideração vários elementos: Vendas dos volumes, audiência do anime, contexto histórico, impacto cultural, número de mercados alcançados, longevidade, e muitos outros pontos. Tal análise serve para, por exemplo, responder a pergunta: Kimetsu no Yaiba é um dos maiores sucesso da história?. Contudo, esse tipo de análise é útil somente para mangás de já grande dimensão, inútil para obras como PPPPPP, que vendeu menos de 30 mil cópias.
Avaliando o mercado de mangás ATUAL, uma série para ser considerada um sucesso comercial deve conseguir vender acima de 90 – 100 mil cópias ao mês no Ranking Oricon ou ter, ao menos, 200 mil cópias em circulação por volume. Algo que PPPPPP passou muito longe de alcançar. A ausência de um anime e de merchandising de grande relevância, demostram que a série passou longe de poder ser considerada um sucesso comercial. Deste modo, é óbvio que não podemos definir a série um sucesso comercial, muito menos um “sucesso absoluto”. Já obras como MASHLE, Sakamoto Days e Ao no Hako já podemos definir sucessos comerciais.
Sobre ser um sucesso interno é algo discutível, pois inicialmente PPPPPP poderia ser considerado um sucesso interno para o standard atuais da revista. Inclusive temos na revista mangás que tem vendas parecidas com com PPPPPP, como Boku no Roboco, Undead Unluck e Yozakura-San Chi no Daisakusen, sendo o último aquele que vende mais com 37 mil cópias por mês (uma quantidade mesmo assim bem baixinha para um mangá com 3 anos de vida). Por isso, o que levou os editores a cancelar PPPPPP na minha opinião foram outros dois elementos:
- A recepção interna igual ou mais baixa que as outras três séries já citadas no momento do cancelamento
- Ausência de anime ou de perspectiva de um, por isso baixa perspectiva de aumentar seu sucesso interno e comercial.
Esse segundo ponto é ainda mais importante do primeiro. Sim, os outros três mangás vendem mal e tem uma recepção interna mediana para boa, contudo, todos os três já tem um anime em produção. Boku no Roboco o seu anime já estreou, Undead Unluck irá lançar o seu anime esse ano e Yozakura-San irá lançar o seu anime no próximo ano, deste modo PPPPPP acabou sendo aquele mais cancelável entre os quatro mangás que vendem abaixo de 40 mil cópias.
Para piorar, suas vendas se estabilizaram em 29 mil cópias, provando que talvez a série tinha já chegado ao seu ápice (É muito importante um dizer “TALVEZ”, pois já tivemos sérios que conseguiram aumentar em vendas após um período de estagnação). Isso aconteceu justamente por causa da sua recepção interna ter piorado nos últimos meses. O mangá não estava conseguindo vingar em vendas, atrair novos leitores e aumentar sua popularidade interna, deste modo, os editores decidiram cancelar o mangá.
O que levou a série a não vingar em vendas e deste modo ser cancelada?
Sim, as baixas vendas cancelarem a série, mas por quê PPPPPP vendia mal? A resposta exata nunca poderemos ter, contudo, olhando os comentários nos fóruns japoneses e observando os elementos presentes no mangá, podemos tirar algumas conclusões. Eu acredito que tiveram três grandes motivos para o público geral não se conectar completamente com a série, levando assim o mangá a nunca superar a marca de 30 mil cópias em 1 mês – marca que mangás como Ruri Dragon e Ichinose conseguiram superar já no primeiro volume -.
O primeiro motivo, infelizmente, é a sua arte. Por mais que eu ache muito bonita a arte de Mapollo 3, muitos leitores criticaram o traçado do autor. As críticas se centravam principalmente na “estranha forma dos personagens” que não seguia um traçado “shounen” tradicional, se aproximando muitas vezes a uma arte “shoujo”. Também criticaram o mangá pelo fato que não seguia a ideia tradicional de “boa arte” que seria páginas duplas grandiosas com maior número de detalhes possíveis. Mas mesmo eu não concordando com isto, devemos entender que os mangás da Shounen Jump, muitas vezes se aproximam mais de uma mercadoria do que realmente de um produto artistico; autores que tentam escapar dos “gostos do mercado jovem” acaba tendo a sua obra cancelada.
É o mercado que dita, não a arte, e essa é a realidade dos fatos. Se o Analyse It existe até hoje, é justamente por causa das minhas análises de vendas e popularidade baseada no querer do mercado, e não por causa de análises da qualidade artísticas das obras que passaram na Shonen Jump.
O segundo motivo da obra ter dado errado acabou sendo o seu roteiro que muitas vezes parecia arrastado e não conseguia desenvolver muito bem os personagens – quando o design de uma obra não ajuda a atrair leitores, um autor deve entregar um roteiro impecável, com reviravoltas de altíssima qualidade -. O roteiro de PPPPPP era legal, com bons momentos de comédias e momentos dramáticos medianos, contudo, não era o suficiente para sobreviver na revista. O mangá até despertou curiosidade dos leitores nos seus primeiros três volumes, é por isso que vemos o aumento em vendas nos primeiros volumes, mas a partir do quarto, o roteiro mediano acabou pesando, suas vendas estagnaram e sua popularidade interna caiu.
Concluindo, o terceiro e último grande motivo (temos vários outros), é que séries mais voltada para a música tendem a não dar certo na Weekly Shonen Jump moderna. Soul Catcher também durou alguns volumes antes de ser cancelado e sofreu com o mesmo problema de PPPPPP – vendas estagnadas -. Obras mais musicais tendem a dar mais certo no anime, por causa do apoio sonoro, algo que obviamente não temos no mangá. Eu não diria que é impossível lançar um mangá musical de sucesso na revista. É completamente possível, mas a obra deve ter um roteiro muito bom e personagens extremamente carismáticos, algo que PPPPPP não tinha.
Somando esses três elementos e outros menores, podemos concluir que PPPPPP realmente não tinha o necessário para agradar o público alvo da Weekly Shonen Jump, que são jovens entre 14 e 25 anos – e mesmo tendo um começo até promissor, o roteiro mediano travou o seu crescimento em vendas -. O cancelamento, deste modo, era inevitável, e não sei se é uma boa ideia Mapollo 3 lançar outro mangá na revista – eu daria uma segunda possibilidade, já que é um autor talentoso, contudo, é mais provável que consiga ter mais sucesso em uma revista mais adulta, como a Ultra Jump ou a Jump SQ, no qual teria mais liberdade em trabalhar os seus roteiros e a rejeição em relação a sua arte seria menor.