Os tempos mudam, nada resta o mesmo, por mais que queiramos – É com essa premissa que quero analisar o fenômeno da criação da Shonen Jump Plus e sua atual “batalha” contra a Weekly Shonen Jump, revista que desde os anos 60 é a principal plataforma de lançamentos de mangás. Essa batalha vem deixando muitos leitores preocupados com uma possível “morte” da revista, já que enquanto a Jump Plus está encontrando novos sucessos, a Weekly Shonen Jump nos últimos dois anos encontrou somente mangás com um moderado para baixo sucesso comercial. Sim, temos Sakamoto Days, Ao no Hako e MASHLE, mas todos os três não chegam aos pés das vendas de Kaiju no.8 e SPY x Family, por exemplo.
Mas antes de tudo, O QUE É A SHONEN JUMP +?
A Jump + é uma plataforma online, no qual são vendidos e lançados gratuitamente vários mangás da linha Shonen Jump – no caso, todos os mangás que não participam da revista “principal” – Inicialmente, a plataforma servia realmente como algo “Plus”, algo a mais, já que a revista principal continuava sendo a WSJ. De fato, se vemos os lançamentos nos primeiros anos de vida (2014 – 2015), notamos que os mangás mais relevantes eram elDLIVE que tinha a características de ser colorido e iShoujo, que era uma transferência. Até mesmo os Spin-Offs de Kuroko no Basket e Beelzebub tinham sido transferidos para a Jump NEXT, mostrando que os editores, na época, vinham mais vantagem comercial na revista exclusiva para One-Shots do que na plataforma.
Contudo, com a rampante popularização da mídia digital nos últimos 5 anos, vimos uma mudança de maré no mercado de mangás. Vimos os mangás lançados entre 2016 e 2018 tendo um sucesso maior do que os dos anos anteriores, com um grande destaque justamente para Jigokuraku e Fire Punch, mangá de dois autores que conseguiram depois acessar também a revista principal, com Ayashimon e Chainsaw-man, respectivamente.
Os anos seguintes, porém, foram ainda mais brilhantes para a revista: Entre 2019 e 2021 vimos chegar séries como: Spy x Family, Kaiju no.8 e Dandandan, três grandes sucessos comerciais, que superaram qualquer novo sucesso da Shonen Jump lançado entre 2020 e 2022. Os volumes de Spy x Family conseguiram, por exemplo, vender mais de 1 milhão de cópia por volume antes mesmo do lançamento do anime.
Por quê a Shonen Jump não está conseguindo vender tão bem?
Primeiro, é simplicista resumir o sucesso da Jump + e a crise da Shonen Jump a somente um único fator, ou até mesmo a dois fatores principais, é uma problemática multidimensional que interferem elementos que nem mesmo nós sabemos. Não temos a disposição todos os dados para realizar uma análise completa sobre este fenômeno, porém, o que podemos fazer é citar os mais visíveis, aqueles que conseguimos melhor notar:
E não podemos negar que um dos elementos que mais prejudica a revista é justamente o fato de ser uma revista e não uma plataforma: A Shonen Jump é física e a versão digital é a pagamento, enquanto muitos japoneses conseguem ter um acesso rápido e gratuito aos mangás da Jump Plus, principalmente se forem novos lançamentos. Isso faz com que a Jump Plus seja mais ACESSÍVEL – E uma plataforma mais acessível, e de certo modo, mais moderna acaba deste modo atraindo muito mais leitores. Eu sou a favor de TODOS os mangás da Shonen Jump serem lançados gratuitamente na Jump Plus pelos primeiros sete capítulos (O primeiro volume). Já fazem isso com os três primeiros capítulos de várias séries, como Nige Jouzu no Wakagimi.
O fato de a Shonen Jump ser uma revista, com 20 mangás, também limita a quantidade de séries lançadas por ano; a revista lança entre 8 e 12 novos mangás por ano. Enquanto a Jump Plus consegue lançar MUITO MAIS MANGÁS, e escolhe qual promover de acordo com sua recepção inicial e de acordo com a fama do autor: Quanto mais mangás são lançados, maior é a possibilidade de encontrar grandes novos sucessos. Então, o fato de a Shonen Jump ser uma revista limitada, também limita a sua possibilidade de encontrar novos sucessos, em comparação a sua irmã mais nova.
Obviamente a Jump Plus acaba lançando muito mais mangás ruins que a Shonen Jump, contudo, acabam sendo enterrados pelos algoritmos da plataforma, que vai promover somente aqueles que tiveram uma boa recepção. Já a Shonen Jump tenta fazer algo similar com a ordem da TOC, mas é menos eficaz, já que querendo ou não, os mangás ruins continuam visíveis, enquanto na PLUS são realmente enterrados vivos.
A rigidez da Shonen Jump, em minha opinião, é um outro fator que deve estar prejudicando a revista: Os mangás obrigatoriamente devem ser lançados semanalmente, uma besteira sem tamanho, até mesmo a Weekly Young Jump, a maior revista Seinen, que também é da Shueisha, já abandonou essa rigidez. Isso faz com que mangás como Spy x Family ou Kaiju no.8 sejam lançados na Jump PLUS, ao invés da Shonen Jump. Faz com que os autores sofram muito mais e tenham problemas de saúde causados pelo excesso de trabalho: Com esse sistema, a Shonen Jump limita tanto as suas opções de séries que podem lançar quanto acaba prejudicando a saúde dos seus trabalhadores.
Em minha opinião, a Shonen Jump poderia muito bem ser uma revista DINÂMICA, no qual existem tranquilamente 30 séries sendo lançadas, porém, a cada edição 10 fazem uma pequena pausa e 20 são lançadas. Isso traria um pouco mais rotação para a revista, permitiria mangás como Kaiju no.8, mas inicialmente traria um estranhamento por parte dos leitores, que ficaria um pouco perdidos sobre quais mangás seriam lançados ou não. Com o tempo, os leitores se acostumariam a ler “os lançamentos da próxima edição”, e deste modo, a estranheza iria desaparecer. Menos rigidez e mais abertura é o que a Shonen Jump precisa.
Depois não podemos negar que a Shonen Jump está realmente com grandes dificuldades em encontrar novos Battle Shounen, mas essa realidade também atingiria que a Jump Plus, caso a plataforma obrigasse os autores a lançarem os mangás semanalmente. Os novos mangás da Shonen Jump não estão tão interessantes assim, e quanto mais os mangás antigos vão terminando, mais a revista parece VAZIA e com mangás sem grande destaque: Os editores deste modo devem apostar tudo em encontrar um novo Battle-Shounen e em DAR RELEVÂNCIA aos mangás que estão atualmente na revista, dar relevância os mangás promissores como Sakamoto Days, MASHLE, Ao no Hako e Nige Jouzu no Wakagimi.
A Jump PLUS vai substituir a Shonen Jump?
Não… Tem algo que a Jump Plus nunca vai ter: O PESO DA MARCA SHONEN JUMP – A plataforma é um PLUS da Shonen Jump, e sempre será um PLUS. No caso a plataforma se torne mais vantajosa comercialmente e acabe pouco a pouco, tomando a relevância da revista, o que vai acontecer é uma FUSÃO entre as duas marcas, nascendo assim a “Nova Shonen Jump”, que se tornaria uma plataforma online de lançamento de mangás, e que lança, uma versão física talvez dos 20 mangás mais “exclusivos”.
Deste modo, é ilógico no mundo capitalista matar uma marca como a Shonen Jump, quando você pode criar uma versão “Premium” dessa mesma marca. Eu acho inclusive que no caso a Shonen Jump não modifique o seu modo de lançar, quando tivermos o próximo editor-chefe, a fusão entre a Plus e Shonen Jump será um processo inevitável: Não teremos mais a Jump Plus, simplesmente teremos a plataforma online Shonen Jump e uma revista fisica.
A realidade é que, de certo modo, isso já acontece: Uma divisão entre as duas plataformas é mais uma criação nossa, é muito provável que para a Shueisha, as duas plataformas formam uma equipe única, já que muito provavelmente dividem o mesmo edifício (Já que tem uma rotação de editores e o mesmo editor-chefe) e também são marcas praticamente parecidas. Temos a Shonen Jump e a Shonen Jump +, só que pouco a pouco a PLUS está sendo mais relevante que a principal. É só retirar a marca “Plus”, e deixar tudo Shonen Jump de novo.