Será que Ayashimon entregou um bom primeiro volume?
É inegável que dos três mangás da nova leva, Ayashimon era aquele que havia despertado mais curiosidade por parte do público japonês e também ocidental. Podemos considerar Yuuji Kaku já um mangaká veterano, pois lançou o sucesso Jigokuraku na Jump +, e é justamente por isso que as expectativas em relação ao seu mais novo mangá estavam altas, CONTUDO sabemos muito bem que é comum autores de mangás fracassarem em achar um segundo sucesso, Masashi Kishimoto, criador de Naruto, é um grande exemplo disto.
E no geral, após vários exemplos de autores veteranos não dando certo na revista, mesmo com grandes expectativas, quase todo mundo estava com um pé a trás em relação a Ayashimon. Se perguntavam: “Será que vai ser tão bom assim?”. Bem, eu serei breve: A série apresenta problemas graves, mas também tem qualidades emergentes que podem render a série um produto mais interessante do que realmente é. Sem mais delongas, vamos para a crítica dos primeiros 7 capítulos (primeiro volume) de Ayashimon.
O novo One Punch Man da Jump… Só que pior.
Ayashimon começa com três páginas coloridas (sendo duas delas juntas) para apresentar o universo da série, uma estratégia que é utilizada por vários mangás, por ser extremamente eficaz. Normalmente vemos três usos das páginas coloridas no primeiro capítulo:
- Introdução do universo: Talvez através de um Flashback de um momento importante (Exemplo: Nascimento do protagonista, ataque de um monstro que será relevante na história ou surgimento do vilão principal)
- Cena logo antes do começo do capítulo: São as mais simples entre todas, é muito comum a página colorida inicial ser isso, com uma sucessiva página dupla únicamente artistica.
- Cena Futura: Normalmente um Flashfoward de uma cena no final do capítulo ou de um momento futuro que será importantíssimo para a série (por exemplo, a luta entre o vilão e o protagonista).
São raros os mangás que escapam desse três esquemas, já são esquemas funcionais e ao mesmo tempo muito generais. Ayashimon escolheu o primeiro, e sinceramente introduziu muito bem o seu universo. Logo conseguimos entender que é um mundo cheio de ayakashis e que são relacionados a yakuza – uma mistura não totalmente inovadora, mas que sempre desperta a curiosidade de muitos leitores -.
Depois das ótimas páginas coloridas, o autor começou a desenvolver história. E imediatamente se é visto os defeitos que irão percorrer todos os sete primeiros capítulos da série. O primeiro deles é a similiaridade com duas séries da Shueisha: One Punch Man e MASHLE, que é já uma comédia do primeiro. O mangá segue o mesmo esquema do protagonista engraçadão que vence os inimigos com um soco só. Além dessa fórmula já estar um pouco saturada (Tanto One Punch Man quanto MASHLE estão tentando se distanciar desse conceito), Ayashimon falha em entender como funciona a própria fórmula que usa.
O que acumuna tanto MASHLE quanto One Punch Man é que eram inicialmente obras de COMÉDIA, que tinham como objetivo fazer os leitores rirem. Com o avançar dos capítulos e com o aumento dos elementos de Battle-Shounen, vão diminuindo a frequência no qual o protagonista os inimigos são derrotados por um punho (no caso, dando mais destaque aos personagens secundários). Isso acontece pois a vitória com um punho servia para essas séries como uma comédia ANTI-CLIMÁTICA:
- Comédia Anti-Climática: Seria no caso o utilizo de um anti-clímax para quebrar, de modo cômico, a expectativa do espectator. O autor no caso apresenta um inimigo extremamente potente, que parece ser uma das maiores criaturas e adversários existentes, e que em um Battle-Shoune normal, teriam que passar vários volumes para ser derrotado. Porém, com um simples punho, o protagonista o vence. É uma descontrução do conceito de Battle-Shounen que leva o leitor a rir.
O problema é que, se o autor quer propor algo mais sério, esse conceito acaba não funcionando, pois é a construção da tensão entre os dois adversários que faz com que os leitores gostem das lutas dos B-Shounens.
A descontrução narrativa funciona com as comédias, mas não com os mangás mais sérios, aliás, temos o efeito contrário, criando no leitor uma decepção pela batalha não ter acontecido. E é nisso que o autor, Yuuji Kaku falha. Não percebendo que MASHLE e One Punch Man são comédias que se transforam em Battle-Shounen (e com o aumento da seriedade, diminuiram essa descontrução). Ayashimon não é um mangá dramático, mas é muito mais sério do que uma comédia. Certamente se leva mais a sério que os dois mangás já citados, e isso acaba não combinando com a fórmula de “One Punch Man”.
Literalmente todas as batalhas até o capítulo 7 terminaram rápidamente, com um esquema parecido: O vilão que dá uma sequência de golpes no protagonista (que se anima por ter sido golpeado), para logo depois a batalha terminar com a primeira investida do herói. Talvez não no primeiro punnho, mas certamente na sua primeira investida. O autor ainda tenta empurrar uma narrativa que o protagonista deve utilizar a “sua cabeça para poder vencer”, mas em nenhum combate vemos a necessidade dele utilizar uma real estratégia; é simplesmente frustante.
O segundo problema da série também cai no colo do protagonista: A sua personalidade é insuportável e é, na minha opinião, o motivo principal pelo qual acabei não gostando de Ayashimon. Maruo é vazio, desinteressante, genérico e irritante, e a sua companheira Urara, mesmo sendo um personagem melhor, não consegue compensar quanto insuportável é o Maruo. O modo pelo qual o autor tenta reafirmar certos aspectos da sua personalidade (Como ele é FÃ DE MANGÁS ou como ELE ADORA LUTAR) é o que transformar Maruo em um personagem tão chato; as suas motivações também não são convincentes. Falando nisso, as referências aos mangás mais antigos são legais, mas não são nada de novo: Temos na revista ao menos cinco mangás que fazem continuamente referência a outras obras.
Concluindo, o último grande defeito de Ayashimon é a falta de química entre os dois protagonista: Maruo e Urara parecem simplesmente dois personagens de duas histórias diferentes colocados em um mangá só. Não é trasmitido ao leitor uma sensação de amizade, de amor, de companheiro, de ódio, de rivalidade, entre os dois. O autor até tenta emular algumas emoções na relação entre os dois, porém soa sempre fria e sem sal.
Porém Ayashimon não tem só defeitos. Tem um elemento “NEUTRO” e uma “QUALIDADE”. O seu elemento neutro é arte, que mesmo sendo boa, eu acredito que a obra anterior do autor entregava quadros melhores. Yuuji Kaku tem uma arte mais oitentista, em muitos momentos simples, mas com um design único, isso é visto em pequena escala em Ayashimon, porém ainda não chegou a ser interessante como era em Jigokuraku, a obra precedente do autor.
Por fim, a sua grande qualidade é o universo, que ele apresentou tão bem na página colorida inicial: Quando os protagonista entram no mundo dos Ayakashi, a história se torna mais interessante (mesmo mantendo todos os defeitos já citados), isso acontece pois essa realidade de monstro juntamente com a yakuza é muito curiosa e desperta a minha atenção. A subdivisão da Yakuza em vários clãs, cada um com sua característica e nível, dá um potêncial enorme para a história.
Ayashimon, em minha opinião, entregou um primeiro volume ruim – com um protagonista irritante, um mal uso de uma fórmula já saturada e com uma interação entre personagens que não funciona – mas em compensação tem um universo que considero atrativo. Conhecendo o autor, ainda acredito que Ayashimon possa melhorar, mas é necessário se focar um pouco mais no seu universo e resolver as problemáticas citadas. Por enquanto, é um mangá com capítulos ruins.
Nota: 4.5 / 10