“Garoto, você gostaria de se tornar um caçador?”
A estreia de uma nova leva na Weekly Shonen Jump é sempre um momento especial, pois mesmo a maioria dos mangás fracassando, são nesses momentos que podemos ver o nascimento de um novo grande sucesso. As duas novas apostas da revista são: “Red Hood”, lançado ontem e “NERU” que será lançado nessa semana. Hoje iremos nos concentrar no primeiro capítulo de “Red Hood” e nos pontos positivos e negativos que foram apresentados nessa introdução da série.
Escrito e desenhado por “Yuuki Kawaguchi”, o mangá não é uma obra totalmente nova para o público: Red Hood é o vencedor da Gold Future Cup, competição de votação popular, que escolhe um One-Shot para se tornar uma série na Weekly Shonen Jump. Deste modo, a série foi escolhida pelo público para integrar a Line-Up atual da maior revista de mangás do mundo.
Contudo, isso passa longe de garantir o sucesso do mangá, muito pelo contrário, nos últimos 10 anos, todos os vencedores FRACASSARAM e terminaram sendo cancelados – Os dois cancelamentos mais conhecidos são os de Hungry Joker e Honomieru Shounen – Por isso, Red Hood estreia com um grande “hype”, contudo, também com uma grande responsabilidade: Quebrar uma maldição que dura mais de 10 anos. Será que a obra, já no seu primeiro capítulo, demonstrou que merece estar na revista?
*CONTEM SPOILERS!
ROTEIRO
A maioria dos primeiros capítulos de uma nova série funcionam como um “One-Shot um pouco mais aberto”, por isso apresentam uma história redonda (com começo, meio e fim), que nas últimas cinco páginas, revela qual estrada o protagonista irá realmente seguir. O arco do primeiro capítulo se conclui, para dar início A JORNADA DO HERÓI.
Já vimos vários mangás realizando essa estratégia: Tivemos em “Naruto” com um primeiro capítulo voltado para o teste de “conclusão de curso” de Naruto. Em Haikyuu!! tivemos o jogo de vôlei que culmina em uma derrota terrível para o Hinata. Em Boku no Hero Academia vimos como “Deku”, um menino sem poderes, conseguiu encontrar o seu maior herói, o homem que lhe deu a possibilidade de se tornar um super-herói.
Entretanto, essa escolha mesmo sendo comum, ainda deve ser bem executada: Muitas vezes uma nova série entrega um primeiro episódio que tenta contar uma história fechada, que se perde, porém, em vários conceitos bases. Erros comuns são uma expansão do universo muito precoce (Samurai 8), uma exagerada dramaticidade (The Last Sayuki), cenas de ação decepcionantes (Bone Collection) ou personagens protagonistas sem carismas (Tokyo Shinobi Squad).
É justamente nesse ponto que “Red Hood” se difere desses demais mangás citados; o seu primeiro capítulo equilibra todos os conceitos necessários para criar uma introdução coesa. Os personagens são carismáticos, não apresenta uma dramaticidade exagerada, a cena de ação é muito bem desenhada e principalmente, consegue dar um pequeno “TEASER” do universo da série, mas sem soar extremamente expositivo e massivo (tirando as cinco primeiras páginas).
A prova é a própria página colorida de abertura: Não é uma cena qualquer, mas uma “prévia” do diálogo que os dois personagens terão nas últimas páginas do capítulo. Essa escolha, também não inovativa, é muito inteligente, pois cria a sensação de “roteiro coeso” que muitos leitores procuram quando leem uma série. O leitor, sente como estivesse concluído um ciclo. É uma ação de roteiro muito simples, mas que acaba realçando uma a história na ótica do leitor.
Outro exemplo de roteiro muito bem construído é como o autor em poucas páginas constrói a relação entre o prefeito e o protagonista da história (Velou). Já nas primeiras páginas conhecemos “Velou”, uma criança trabalhadora e corajosa, que se importa muito com o próprio vilarejo. Percebemos também nessas páginas a preocupação dos moradores (já que o lobisomem está comendo os cidadãos), o que será muito importante para dar credibilidade a problemática.
O modo no qual o autor novato, Yuuki Kawaguchi, apresenta as problemáticas da série nunca é extremamente dramático: Se vocês leram a minha crítica à “The Last Sayuki”, comentei justamente que o excesso de melodrama no primeiro capítulo pode afastar os leitores. Deste modo, o mangaká prefere utilizar FRASES CHAVES (como traduzido pela Gravity Scans; “A gente nem sabe se vamos estar vivos quando você crescer”) com expressões faciais simples, mas que passam um sentimento triste e melancólico.
É justamente por ter diálogos chaves e esses pequenos quadros bem desenhados, que conseguimos entender completamente a revolta de Velou quando descobre a morte do Prefeito, que não só cuidou do protagonista (depois da morte dos seus pais para lobisomens), mas também sempre se preocupou com os seus cidadãos.
Por fim, o autor consegue construir um bom roteiro de aventura também: Ao colocar que o lobisomem é um dos integrantes da vila, o autor adiciona um pouco de suspense que acaba deixando a história ainda mais rica, além de desenvolver ainda mais a sensação de pertencimento do protagonista em relação a sua vila. A revelação que é a senhora é muito eficaz, justamente pelos elementos apresentados antes. Sim, VOCÊ SABIA QUEM ERA A VELHA, mesmo ela aparecendo em somente dois pequenos quadros
E sabe como você sabia? Essas duas cenas foram extremamente pontuais, principalmente a primeira, no qual o autor apresenta uma piada que não só ajuda a desenvolver a personalidade de cavalo raivoso da Grimm (personagem secundária de alta relevância), mas também acaba levando muitos leitores a darem uma boa risada.
Sobre o universo: O autor apresenta um pouco sobre o mundo ao longo da história, mas sem soar massivo. Realizar no primeiro capítulo uma quantidade enorme de diálogos é praticamente pedir para a sua série ser cancelada: Eu diria que essas liberdades um autor deve tomar a partir do quarto capítulo – se necessário MESMO, no segundo capítulo – Porém, NUNCA no primeiro capítulo.
O modo que Yuuki Kawaguchi escreveu as últimas páginas, também corroboraram pelo bom desenvolvimento da história: Sempre acertando com os diálogos, inteligentemente o autor colocou como objetivo dos caçadores a “extinção das criaturas monstruosas e mágicas”, para que um dia elas se tornem somente mitos (colocando como prova que isso é possível uma extinção dos dragões). Provavelmente muitos de vocês pensaram: “É por isso que atualmente não existem mais” – Obrigado Guilda dos Caçadores -. Não é uma ideia original, mas mesmo assim bem implementada na história.
Por isso, tranquilamente podemos dizer que “Red Hood” entrega um primeiro capítulo muito bem escrito, com várias questões bem desenvolver e com um mundo coerente. É um primeiro capítulo, em termo de roteiro, MUITO sólido.
ARTE
Mas em um mangá não basta ter um roteiro sólido, se deve ter uma arte sólida: Muitas das cenas que comentei acima tiveram o apoio da arte de Kawaguchi, que combina com a história a ser desenvolvida: Por exemplo, o design da “velha” é também memorável, deste modo você acaba levando mais facilmente dela. Como você consegue sentir o peso de algumas frases justamente por causa da arte que a acompanha.
Se já nos pequenos detalhes a arte de Yuuki Kawaguchi surpreendeu nesse primeiro capítulo, devo dizer que nas cenas que requeriam uma grandiosidade, o autor não decepcionou: Conseguiu entregar algumas páginas singulares e duplas eletrizantes, que devem ter deixado muitos leitores arrepiados: Com destaque para o design do lobisomem e para a cena que temos a explosão da bomba.
Eu não acho que foi por acaso a escolha dos editores em transformar o Kawaguchi em assistente do Kohei Horikoshi (autor de Boku no Hero Academia). A arte dos dois já eram bem parecidas, mas depois do “estágio” com o autor veterano, a habilidade de Yuuki Kawaguchi começou a ter vários pontos técnicos de Kohei Horikoshi, que já podemos ver em Boku no Hero Academia.
Por exemplo, nesse primeiro capítulo vemos vários enquadramentos similares, várias expressões faciais parecidas (principalmente os olhos) e até mesmo a composição das cores das páginas coloridas lembram o Horikoshi no início da sua carreira. Em nenhum “Red Hood” se torna uma cópia artística de Boku no Hero Academia, é possível ver ainda várias características únicas e individuais da arte espetacular de Yuuki Kawaguchi.
MELHORAMENTOS
Quando lemos o One-Shot, que já era bom, percebemos a grande evolução do mangaká em menos de seis meses. Eu diria que não teve nenhum elemento que não foi melhorado – no máximo alguns defeitos acabaram sendo mantidos, como por exemplo
Vimos um “upgrade” na personalidade Velou. Se antes não passava tanta segurança, impossibilitando um desenvolvimento genuíno de empatia pelo personagem, agora dá a sensação de ser um bom protagonista, alguém por qual torcer. Um garoto que talvez não tão forte fisicamente, mas que está disposto a lutar pelo certo. A Grimm, que tinha sido um grande acerto no One-Shot, teve uma personalidade mantida.
Aliás, tenho que elogiar bastante a “Grimm”: É uma personagem bonita, que passa uma grande potência e controle, uma ótima personalidade para uma aventura B-Shounen. É muito curioso o seu “design”, já que lembra a Chapeuzinho Vermelho (e dessa vez, melhorando ainda mais a história, diversamente do One-Shot, o autor FEZ uma referência ao conto de fadas do chapeuzinho vermelho e o lobo mal). Eu acho que a personagem tem um grande potencial de se tornar uma das queridinhas do público.
O mistério sobre o lobisomem também teve uma grande melhoria: A construção da tensão é bem mais articulada, deixando realmente o leitor curioso para saber o que irá acontecer. Porém, sem sombras de dúvidas, o design do lobisomem é a principal melhoria nesse primeiro capítulo:
Saímos de um cachorro jacaré louco e estranho, que não combinava nem um pouco com a personalidade da avó, para uma criatura monstruosa. com design mais único e aterrorizante, que parece ter saído diretamente do “Necronomicon” de H.P Lovecraft. Esse melhoramento no “design” do personagem resultou em um aumento realmente significativo na tensão desse primeiro capítulo.
CONCLUSÃO
Red Hood teve um primeiro capítulo realmente muito bom, que eu tenho poucas críticas a serem tecidas: Esse é um dos raros casos no qual tanto editor quanto o autor realmente MELHORARAM O ONE-SHOT, ao invés de cortar todos os pontos positivos da história para assim “agradar ainda mais o público”. Nunca podemos dizer que uma história já demonstrou, no seu primeiro capítulo que será um grande mangá, mas Red Hood começou com o PÉ DIREITO!
Contudo, temos que lembrar que um primeiro capítulo não é uma garantia de sucesso: A parte complicada irá iniciar AGORA, já que o autor a partir do segundo capítulo terá que apresentar de uma vez por toda o universo no qual a história irá se passar. Eu só espero que não se torne, ao menos os primeiros capítulos, um mangá episódico (um caso por capítulo), seria uma decisão de roteiro horrível.
Também me preocupa um pouco a questão de a história ter um grande pé na mitologia e folclore ocidental, podendo distanciar um pouco alguns japoneses (aqueles que gostam de obras mais tradicionais). Eu acho que a qualidade da série irá conseguir superar esse preconceito.
Eu recomendo você dar uma chance para “Red Hood”, e recomendo ler na MangaPlus, caso você tenha um bom domínio sobre a língua inglesa. E no caso você não tenha, recomendo ler a tradução em PT-BR da Gravity Scans. É uma tradução de altíssima qualidade e que, inclusive em vários momentos, é melhor que aquela da MangaPlus. Então, quais foram suas primeiras impressões sobre “Red Hood”?
CHEGOU!! Primeiro capítulo do novo mangá da Jump, Red Hood!!
Venha acompanhar o início da jornada de Velou e Grimm! ❤
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