A obra do momento?
Escrito por: Leonardo Nicolin
Se tem um anime que está chamando atenção nessa temporada é BEASTARS – Lançado no início desse mês de Outubro – Produzido pelo estúdio Orange, a obra entregou já dois episódios muito interessantes, que surpreendeu tantas pessoas, porém, para nós do Analyse It, e para quem acompanha minha classificações anuais de Melhores Mangás do Ano, não é uma surpresa a qualidade da obra, muito pelo contrário estávamos ansiosos para que o público geral conhecesse esse mangá com uma qualidade tão intrínseca e constante. Lembrando que Beastars ficou na segunda colocação do ranking do ano passado, e realmente por muito pouco, não elegi a série o melhor mangá de 2018. Porém percebi que mesmo com o sucesso do anime, por variados motivos, muitas pessoas não querem dar uma chance para Beastars, por isso, decidi escrever uma matéria explicando o motivo pelo qual você deveria dar uma chance à Beastars.
Lançado em 2016 por Poru Itagaki, Beastars surpreendeu imediatamente o público da Shonen Champion, revista no qual a série vem sendo lançada regularmente. Ninguém conhecia Poru Itagaki, era uma autora novata, sem nenhum motivo para que os leitores esperassem uma obra de tamanha qualidade. Porém, os editores da Shonen Champion (revista de média-porte que já lançou Yowamushi Pedal, Saint-Seiya: Lost Canvas, Baki, Apocalypse Zero, Alabaster, Black Jack e algumas das obras mais importantes de Go Nagai), viram um grande potencial em Itagaki e decidiram apostar alto em Beastars, dando um constante destaque à obra que perdura até hoje. A aposta resultou muito acertada e o mangá se tornou uma das obras de maior sucesso da revista atualmente e tem potencial para se tornar uma obra histórica para a Shonen Champion.
Porém, você que ainda não decidiu dar uma chance para a criação de Itagaki, deve estar se perguntando: “Sim, Nicolin, mas do que se trata esse mangá?” – Beastars é um mangá ambientado em um mundo fictício, urbanizado e civilizado, no qual os animais de forma antropomórficas convivem inteligentemente. Por causa da diferença entre espécies do mundo animal, esse mundo tem várias divisões de classe e social, a maior delas é baseada justamente na ordem das espécies: Carnívoros e Herbívoros. Os animais carnívoros são constantemente julgados como violentos, traiçoeiros e mentirosos pelos herbívoros. O nosso protagonista é justamente um lobo cinzento, chamado de Legoshi.
Esse preconceito aumenta quando um estudante (que é uma Alpaca) da escola de Cherryton Academy vem brutalmente assassinado por um animal desconhecido. Os membros hérbivoros do colégio julgam como culpados justamente os carnívoros, acusando que eles não conseguem controlar os seus extintos animalescos (esse elemento vem muito bem desenvolvido pela série, principalmente os extintos animalescos de Legoshi, o protagonista), aumentando ainda mais a divisão entre as duas ordens. A série mistura romance, crítica social, mistério e ação de modo muito interessante, indo muito além do público que gosta de obras Furry’s. O mangá tem muitas qualidades que eu irei listar justamente nessa análise:
PERSONAGENS PLURIDIMENSIONAIS
Para mim, de longe o ponto mais forte de Beastars é justamente os seus personagens. Começando justamente por Legoshi, que nas primeiras páginas dá para entender que será somente um lobo cinzento gentil, que contraria os estereótipo de carnívoro selvagem, porém, ao avançar da história, você deve um lado diverso de Legoshi, e ao longo dos arcos que se desenvolvem na série, vemos Legoshi evoluir e ser torna um personagens espeacular. É um protagonista complexo, que entrega constantemente cenas que te fazem refletir sobre até mesmo a natureza humana. Este, aliás, é um elemento muito importante da obra, mesmo sendo vários animais, todos os personagens da história carregam vários comportamentos humanos, misturados com alguns comportamentos mais relacionados a sua própria espécie. Orgulho, Compaixão, Inveja, Raiva, Sexualização, são alguns dos muitos comportamentos humanos que são retratados na obra de maneira complexa.
Os personagens secundários também apresentam vários nuances que deixam a história muito dinâmica, principalmente os membros do Drama Club:
Louis -Famoso, grandioso e com um ego gigantesco, Louis é um alce que esconde uma personalidade muito interessante. É um dos personagens mais bem desenvolvidos na história, e que tem vários elementos nna sua personalidade que lembra a raça humana.
Bill – Um tigre que é orgulhoso em ser carnívoro, protagoniza várias cenas interessante sobre a índole carnívora.
Juno – Uma loba cinzenta, como Legoshi, muito educada e aparentemente inocente.
Também temos Haru, uma coelhinha que não é muito bem vista pelos outros animais herbívoros pelo seu comportamento “sexualizado”. Conhecemos ela um pouco mais quando, pouco a pouco, vai se aproximando à Legoshi, construindo uma relação muito interessante e profunda. Outros personagens, como Riz (Um urso bruno silencioso e muito educado, que deve seguir várias regras impostas pela sociedade só por ser um urso) e Gouhin (Um panda que é um psicólogo, responsável pela reabilitação de animais selvagens), também são bem interessantes.
HISTÓRIA COMPLEXA
Com um número grande de personagens interessantes, se torna muito mais fácil produzir uma ótima história de qualidade: Beastars apresenta uma história que inicialmente parece ser somente um mistério sobre quem matou a pobre Alpaca, porém, a autora imediatamente apresenta várias outras nuances, que transforma Beastars em uma história com vários elementos diversificados e ao mesmo tempo muito bem equilibrado entre eles. O romance, por exemplo, é um dos pontos mais interessantes da história: Vemos personagens de espécies diferente se conhecendo, se apaixonando e quebrando uma barreira de preconceitos justamente para poderem estar juntos. Porém, não é uma história que o amor pode tudo, existem limites e muitos dilemas que esses personagens vivem para poder estar juntos: Dilemas que são reais (na história) e que realmente podem impactar a vida de cada um deles. Deste modo, nós leitores, ficamos grudados no mangá, lendo cada página para saber o que acontece, no mesmo tempo que imaginámos as mil possibilidades.
Entretanto, Beastars não é só um romance misturado com mistério, também carrega uma vários elementos de comédia que são hilários, cenas de ação, no qual vemos uma luta sanguinolenta entre os animais, que deixam qualquer mangá B-Shounen no CHÃO – É importante dizer que os combates é um elemento que é introduzido somente depois de alguns capítulos, mas vale a pena esperar até esse momento, pois as lutas de Beastars são simplesmente espetaculares, sangrentas e animalescas. Também temos várias surpresas ao decorrer da história que deixam qualquer leitor de queixo caído, grandes plotwist (não só relacionado a quem matou Tem). Por fim, vemos constantes críticas sociais que dão uma profundidade ao roteiro da série, que muitos mangás e animes da atualidade, não conseguem fazer: Exemplos de crítica social é a divisão social entre classes e espécies, como a sociedade tenta coibir e controlar certas naturezas, prejudicando o psicológico de muitas espécies (pessoas), e como nós vivemos nessa “falsa paz” e “falsamente felizes”, mas na realidade estamos presos a essas normais sociais, preste a ter um colapso mental.
Outro elemento muito interessante da série é a sua arte: Poru Itagaki pode ser uma autora novata, mas com certeza sabe desenhar muito bem. O mangá apresenta uma arte mais suja, lembrando de certo modo os mangás dos anos 80, porém com toque de modernidade, já que muitos dos seus quadros rabiscados são desenhados digitalmente. Os objetos constantemente tem formas levemente distorcidas, vários easter eggs visuais, muitos personagens mais esguios e caquéticos, que lembram o seres humanos dos anos 20 e 30. Muitos cenários, em grande parte vintage, são inacabados propositalmente, com tonalidades de cinzas que gradualmente mudam para branco ou para preto, dependendo da situação e objeto da autora, dando assim uma ideia de obra em construção e ao mesmo tempo uma sensação de estar lendo um mangá “Noir” escrito à mais de 50 anos atrás, por fim, também temos uma arte de fundo que muda constantemente, ás vezes é em forma de teia, outras em forma de linha ou em alguns casos em forma de bolinhas, que dá ao mangá uma combinação artística muito única e original. Como vocês veram no primeiro quadro logo abaixo, Legoshi (O protagonista) é desenhada na sua forma normal, porém com um fundo com várias linhas, dando um toque diferente a cena. Certos momentos, porém, a autora utiliza “pattern digitais” contínuos e pré-estabelecidos para simbolizar talvez um cheiro, uma transição de tempo ou mesmo simplesmente para dar uma composição diferenciada. As expressões dos personagens são variavéis também, e a autora utiliza do elemento da distorção visual e do quadro inacado, como descrito acima, para dar uma tonalidade mais assustadora à algumas cenas. Podemos considerar a arte de Itagaki inteligente e muito bela.
Essa criação artística por parte de Poru Itagaki pode ser vista somente se vocês decidirem ler o mangá. Caso a sua preferência seja o anime, o estúdio Orange, produziu um anime inteiramente em CG, que também tem o seu charme. Digo sem nenhum medo que Beastars é atualmente um dos melhores animes semanais em CG. Dê um tempo para se acostumar com o CG, e caso continue não gostando (O que é normal, muita gente não consegue gostar de um anime CG, outros amam, é uma questão de gostos), não abandonar tudo, vá lê o mangá, é muito bom. Deste modo, para mim, em termo de arte, temos dois mundos totalmente diferentes: A sua experiência visual vendo o anime é totalmente diferente daquela lendo o mangá, por isso, você pode escolher qual começar – Talvez eu recomendaria primeiro o anime, para depois dar uma lida no mangá, mesmo porque o anime está retirando alguns elementos do mangá, por isso, se você ler o mangá depois de ter visto o anime, não só terá uma experiência visual nova, mas também várias informações novas que foram ocultadas.
Exemplo de quadros e páginas de Beastars:
INTERAÇÃO ENTRE OS ANIMAIS
O meu elemento preferido da série é justamente a sua ambientação e a interação entre os animais: Grande parte do mangá se passa na Cherryton Academy, escola de alto nível que convivem vários animais diversificados. A maioria dos seus clubes são bem divididos; frequentado por somente herbívoros ou somente carnívoros, com exceção para o Drama Club, que é frequentado por ambas as ordens. Porém, em vários momentos esses animais de ordens, famílias, espécies, raças diversas tendem que conviver entre si. É justamente nesse momento que percebemos as interações entre os animais diversificados:
É interessante ver como os animais pequenos (como Ratos) riscam constantemente de serem esmagados, que os peixes se comunicam através bolhas e sons (e não palavras), ver como a dieta dos carnívoros é equilibrada com outras proteínas similares (parecidas com as dos Veganos) já que não podem comer carne, mas também temos interações mais bizarras, como “certos animais que vendem a própria parte do corpo” para os carnívoros comerem escondidos, o lucrativo mercado negro, a relação entre a medicina e algumas espécies animais. Algumas interações são vistas mais como “Easter Eggs”, outras fazem parte do “core” da história e movem o roteiro. Algumas delas, inclusive, fazem parte do desenvolvimento de um personagem, como um animal que tem “vergonha” de ser de um modo ou inveja por algum outro animal ter vantagem. Por mais que os personagens é o ponto mais forte da história, a interação entre os animais e a ambientação, é o meu preferido.
TRILHA SONORA (ANIME)
O último motivo é exclusivo do anime: Talvez um dos pontos melhores do anime é justamente a sua trilha sonora. Primeiramente a Opening na série, que você poderá presenciar no segundo episódio, mas que deixarei já nessa análise, é simplesmente espetacular. Tanto a sua composição visual quanto a música escolhida, mas a trilha sonora da série não se resume à uma ótima Opening, a série entrega músicas mais voltadas para o jazz, quanto uma música somente com o piano, mas muito bonita e tocante. Eu acredito que seja uma das melhores trilhas sonoras do ano de 2019. A música é somada aos incríveis sons ambientais nas cenas e também à uma dublagem de altíssima qualidade. No quesito qualidade sonora, Beastars é um dos melhores animes que tem no mercado atualmente, é uma qualidade SUPIMPA.
CONCLUSÃO
Beastars é um dos melhores animes dessa temporada e é um anime bem estabelecido que conseguiu chamar atenção nesses últimos anos, justamente por sua incrível qualidade. É inaceitável para você, amante de mangá ou de anime, não dê ao menos uma chance para a série. É normal não gostar de uma obra, cada um pode ter seu motivo, mas não se deixe levar pelo preconceito de Beastars ser uma obra para “Furrys” ou uma cópia série de Zootopia, a obra é muito mais que isto, é um mangá profundo com vários conceitos interessantes e muito bem desenvolvidos. Esses foram meus cinco motivos para uma pessoa dar uma chance para Beastars, espero que vocês tenham gostado do texto.