Boku no Hero e Yakusoku no Neverland são pilares?
Reflexão Semanal #42, Leonardo Nicolin (24/12/2018)
Passam meses, análises, TOCs e as perguntas mais recorrentes no Analyse It são: “Quais são os pilares da Weekly Shonen Jump atualmente?“, “Quais foram os principais pilares do passado?” e principalmente, “Como podemos definir uma série um pilar da revista ou “semi-pilar”?”. Está na hora de darmos um “basta” nessa discussão tão polêmica que sempre rende dezenas de comentários nas análises das TOCs. Com esta análise irei usar meu conhecimento mediano sobre a revista para tentar encontrar uma definição para esse “título” que é tão almejado por tantos autores que sonham em participar da revista. Lembrando que está é a primeira análise de um projeto de natal e ano-novo: Irei lançar uma análise cada dois dias nas próximas duas semanas, no qual vocês votarão qual será a próxima análise a ser lançada.
Talvez não existe título mais importantes na revista que o de “pilar”, quando os editores decidem entregar a uma série tal denominação, com certeza sabemos que ela entregará um papel importantíssimo para a manutenção da popularidade do mangá na revista nos próximos dois anos (no mínimo). Para a Weekly Shonen Jump, revista semanal que atualmente tem vários mangás relevantes para o mercado de quadrinhos, ser um pilar vai muito além do que vender acima de 500 mil cópias ou ser uma série B-Shounen de sucesso. O título de pilar é destinado aos mangás que compõe a base cativa do público comprador da revista. Mangás que quando estiverem ausentes, a revista pode ter uma queda substancial em vendas. Por exemplo, sabemos que quando ONE PIECE, pilar da WSJ há incríveis 20 anos, se ausenta para que o autor possa usufruir das suas férias em Bangkok, a Weekly Shonen Jump (WSJ) tem uma queda de venda preocupante. É também sábido que quando a série terminar, tem grandes chances de vermos uma queda realmente acentuada nas vendas semanais da revista, pois muitas pessoas se sentirão “desmotivadas” em comprar a Weekly Shonen Jump.
O impacto nas vendas que uma série pode trazer a revista que ela partecipa é muito complicado em se misurar, principalmente para nós (eu, você, todos os leitores da revista), que somos agentes externos que não tem nas mãos os dados concretos da demografia da WSJ, porém podemos tentar imaginar quanto uma série é importante, nos baseando nos dados que temos a disposição, que são: a história da revista, as vendas dos volumes de uma determinada série, tratamento entregue nas TOCs à essas séries, vendas totais da revista e por fim, opinião do público japonês nos fóruns e nas rede sociais. Utilizando como exemplo o primeiro elemento; A história. Podemos ver no passado acontecimentos que comprovam a importância de um pilar. A famosa crise dos anos 90 da revista, que resultou na Shonen Magazine superando as vendas da Weekly Shonen Jump, foi principalmente causada por dois elementos; o encerramento mal planejado dos três pilares que moldavam a revista e o respectivo mal planejamento em encontrar novas séries que tinham a capacidade de substituir esses três elementos. Em 1994 vimos o encerramento de Yu Yu Hakusho (de Togashi) em 1995, depois vimos o encerramento de Dragon Ball (de Akira Toriyama) e por fim, em 1996, os leitores e editores foram pegos de surpresa com a decisão univoca por parte de Takehiko Inoue de encerrar Slam Dunk.
Deste modo, os editores se encontraram em 1996 em uma situação muito complexa; a revista que já tinha tido uma queda de vendas, por causa do encerramento de Dragon Ball, com o ulterior encerramento de Slam Dunk, teve uma queda ainda mais acentuada. Para piorar se viram com somente um pilar: Rurouri Kenshin, que vendia muito bem e tinha um grande número de seguidores, mas não era grande o suficiente para substituir essas três séries clássicas. A situação só veio se estabilizar em 1998 quando a revista retornou a formar uma “Line-Up” realmente potente, com Yu-Gi-Oh, Houshin Engi, Hunter x Hunter, ONE PIECE, e muitos outros mangás. Os editores reencontraram o sucesso com o lançamento de novas séries de sucessos, algumas dessas, como no caso de ONE PIECE, se tornaram pilares. Outras, como no caso de Seikimatsu Leader-den Takeshi, se tornaram um semi-pilar. Não irei me aprofundir nesses anos, pois vocês podem ler na minha retrospectiva do ano de 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001, que lancei à alguns meses e anos atrás. Reservei, no mínimo, uma análise para cada ano (em alguns casos duas análises), por isso recomendo vocês darem uma olhada mais aprofondida de como era a situação da revista nesse período pós-Era de Ouro.
O encerramento de um pilar pode impactar tantíssimo a revista, como o surgimento de um novo, pode acabar aumentando muito as suas vendas – O período no qual tivemos ONE PIECE, BLEACH e Naruto como pilares (de 2004 até 2011 ou 2012), acabou sendo muito prospero. Esses três mangás eram um sucesso absoluto, tinham um anime de sucesso, vendas altíssimas (acima de 1 milhão por volume), sucesso internacional, vendiam seus gadgets como fossem água e o MAIS IMPORTANTE estimulavam os japoneses a comprarem todos os produtos relacionados a série, principalmente a revista no qual lançava semanalmente os capítulos destas respectivas obras. Elas traziam um público cativo, que pelo menos nos próximos anos (enquanto essas séries fossem lançadas) estavam disposto a investir na magazine. A verdade é que um pilar tem a incrível capacidade de trazer ESTABILIDADE para a revista em longo prazo, ajudando inclusive os mangás menos populares, pois quem compra a revista para ler “X” mangá, tem uma possibilidade real de acabar se interessando por um outro mangá da mesma. É importante deixar claro que isto não é referente somente a Weekly Shonen Jump, mas também para outras revistas, os seus pilares podem estimular um renascimento da revista. Fullmetal Alchemist, Magical Circle Guru Guru e Soul Eater foram essências para a popularização da marca Gangan Comics. Já Gantz acabou sendo de extrema importância para o renascimento da marca Young Jump e Shingeki no Kyojin da marca Bessatsu Shonen Magazine. Já temos casos como Detective Conan, que quando for encerrado, as vendas da Shonen Sunday irão despencar ainda mais.
É importante deixarmos claro que ser um pilar não é simplesmente estar entre os três que vendem mais na revista. Sabemos que Death Note conseguiu superar em vendas tanto Bleach quanto Naruto, e no ano de 2006, chegou também a superar ONE PIECE, porém a série nunca chegou a ser considerada um verdadeiro pilar da revista, mas sim um semi-pilar. Os semi-pilares são as séries que são importantíssimas para revista, mas sua ausência não trará um impacto comercial gigantesco por dois motivos: Seu público não é tão cativo assim, ou como é o caso de Death Note, é uma série de curta-duração, no qual ajudou a revista a ter um pico temporário de aumento de vendas. Os semi-pilares tem uma característica específica: Os editores dão uma importância enorme para a manutenção da série na revista, com publicidades internas e externas continuas, mas os editores não esperam em nenhum momentos que eles formem uma base de sustenção da revista em longo prazo. Os semi-pilares podem ser inúmeros, mas não devem ser confundido com grandes sucesso – entrarei em detalhes logo abaixo -. Se olharmos o ano de 2006, os pilares eram obviamente: ONE PIECE, Naruto e Bleach, enquanto os semi-pilares eram: Death Note, Eyeshield 21, Gintama e talvez Katekyou Hitman Reborn. Os demais mangás, que vendiam muito bem: D.Gray-Man, Prince of Tennis e Bobobobo se aproximavam mais a “Grandes Sucessos”, do que realmente semi-pilares, por isso são mais “Mangás de Suporte”. Os “Mangás de Suporte” são mangás que por variados motivos não recebem tanta publicidade quanto os pilares e semi-pilares, mas mesmo assim continuam tendo um bom apoio editorial, tem vários leitores e vendem muito bem. Dois exemplos atuais são: World Trigger e Shokugeki no Souma.
Depois de mais de 5 anos com os mesmos três dominando a revista, BLEACH, ONE PIECE e Naruto, vimos a queda de um desses mangás; BLEACH, que sempre foi o “elo mais fraco do trio”. A série acabou tendo uma queda de popularidade preocupante, suas vendas declinaram e o público se sentiu insatisfeitos com o rumo da história, preferindo ler outras séries na revista, deste modo resultando na perda do apoio editorial e respectivamente na perda do título de “pilar” – É importante lembrar que BLEACH vendeu muito bem até seus últimos dias de vida e ainda tem muitos seguidores apaixonados pela obra criada por Tite Kubo, por isso a série não é que “morreu” quando deixou de ser um dos pilares da WSJ. Mas então, quando BLEACH deixou de ser um pilar? Muitos argumentam que Toriko com seu anime (que recebeu um apoio editorial gigantesco) assumiu a vaga de pilar em 2011, e eu era uma dessas pessoas que defendiam isto, porém atualmente não acredito mais que Toriko chegou a ser um pilar, mas sim um semi-pilar, pois era importante para a revista, mas em nenhum momento chegou a ter uma função essencial em suas vendas. Deste modo, na minha opinião, BLEACH só veio perder esse título no segundo semestre de 2012, quando Kuroko no Basket se tornou a mais nova galinha de ouro da revista. Talvez BLEACH no começo de 2012 não era mais um pilar e, por não terem um verdadeiro substituto, deixaram essa vaga em aberto por alguns meses. O que não é um problema, pois a transferência do título de pilar não deve ser instantânea.
Essa acabou não sendo a única grande mudança de 2012, também vimos um evento raro, que acontece poucas vezes em uma década, uma série que se tornou INSTANEAMENTE um pilar: Ansatsu Kyoushitsu, que vendeu 1 milhão de cópias no seu primeiro volume e atraiu muitos leitores à revista. Deste modo os editores, que já tinham três pilares bem estabelecidos, foram obrigados a adotar uma estrutura de quatro pilares, ao invés de três: Tivemos ONE PIECE, Naruto, Kuroko no Basket (que tinha acabado de se tornar um pilar) e Ansatsu Kyoshitsu dominando a atenção dos leitores e dos editores. Não existe uma lei que obriga os editores a terem três mangás como pilares, podem ter quatro, cinco ou seis mangás compondo a base estrutural da revista, mesmo que ter mais que quatro pilares em uma revista é complicado, pois um pilar requer dos editores grande dedicação para manter essa série entre os mais populares ao longo dod anos e um grande gasto em propagandas e anúncios. Continuando, em 2014, com o encerramento de Kuroko no Basket e Naruto, os editores se encontraram em uma situação desconfortável novamente, com a revista tendo novamente uma queda de vendas acentuadas, porém, como tinham um pilar a mais, tiveram que só transformar uma nova série em pilar: Haikyuu!!, que tinha lançado no mesmo ano um novo mangá. ONE PIECE, Ansatsu Kyoushitsu e Haikyuu!! ocuparam a vaga de novos pilares da Weekly Shonen Jump. Atualmente, ainda mantemos dois, desses três pilares da revista.
Em 2016 vimos Ansatsu Kyoshitsu terminar e sua vaga de pilar ser parcialmente preenchida por Boku no Hero Academia, que até o começo 2018 os editores ainda preferiam não se referir a série como um dos pilares da revista, por isso a transferência acabou sendo parcial. Boku no Hero Academia tinha o tratamento de um pilar, porém sem ser considerado oficialmente um. Podemos dizer que no início de 2018 somente dois mangás ocupavam a vaga de pilar Haikyuu!! e ONE PIECE. É complicado saber quanto impacto teve nas vendas da WSJ o encerramento de Ansatsu Kyoushitsu, mas parece que as novas séries que acabaram sendo lançadas entre 2014 e 2018 ajudaram a amortecer essa queda, e quem sabe, até mesmo anular. Sabemos que as vendas dos volumes fisicos da revista continuam a cair, porém o editor-chefe já deixou claro que na verdade as vendas totais estão aumentando, se somarmos quanto a WSJ vende digitalmente, por isso, as novas séries estão compensando o encerramento de todas essas séries importantes que tivemos nos últimos anos. Uma das provas que estamos vendo um renascer de novos pilares, é o sucesso estrondoso de Boku no Hero Academia, que se no começo do ano (2018) ainda não era considerado um pilar, depois do incrível sucesso da sua terceira temporada e da bilheteria absurda alcançada no seu primeiro filme, podemos já considerar a série um dos pilares da revista, inclusive, o segundo pilar, acima da série de vôlei, Haikyuu!!.
Mas então, quais são os pilares da revista atualmente? Será que mudarão em 2019? O título de pilar deve ser estável, e durar ao menos 3 anos – não existe definição correta para a duração do título, mas um pilar deve ser um mangá que traz estabilidade para a revista em LONGO PRAZO, deste modo não tem sentido um mangá ser um pilar por somente um ou dois anos, tirando algumas pequenas exceções como uma repentina queda de vendas, que resulte no cancelamento do seu título de pilar, ou um encerramento não-planejado, como o caso de Kuroko no Basket, que muito provavelmente os editores acreditavam que ia durar mais tempo (informação sem provas concretas, baseada em uma observação mais pessoal da situação) ou o caso de Devilman na Shonen Magazine, que vendeu tanto, mas tanto que mesmo durando pouco podemos considerar um pilar no seu período – Atualmente temos ONE PIECE que é pilar da revista há 21 anos, Haikyuu!! que é um dos pilares há 4 anos, e Boku no Hero Academia que acabou de se tornar um dos pilares da revista. Eu não acredito que ONE PIECE irá perder esse título por motivos óbvios, já Boku no Hero Academia acabou de se tornar um pilar, ainda é cedo para perder o título em 2019. Entretanto Haikyuu!! tem a possibilidade de perder esse título, pois já fazem 4 anos que o detém e está tendo uma queda grande em vendas, os editores podem escolher de “retirar” o posto de pilar da obra e transformar-la em um semi-pilar.
Os mangás que tem um real potencial de superar essas séries são: Kimetsu no Yaiba e Yakusoku no Neverland. Enquanto o primeiro deve aumentar muito suas vendas para chegar no patamar de Haikyuu!! e Boku no Hero Academia. O segundo tem tudo para conseguir superar ao menos Haikyuu!! já no primeiro semestre de 2018, com o boost que deve receber com seu anime, porém os editores se encontrarão em um dilema preocupante: Será que Yakusoku no Neverland vai durar o suficiente para transforma-lo em um ponto de estabilidade da revista ou devemos dar um tratamento parecido com o que demos a Death Note? Algumas pessoas podem já argumentar que Yakusoku no Neverland se tornou um quarto pilar da revista em 2018, pelas suas grandiosas posições na TOC e vendas altíssimas, porém, não podemos esquecer uma entrevista dada pelo editor no começo de 2018, que estimulou que os próximos pilares da revista seriam: Black Clover, Kimetsu no Yaiba e Boku no Hero Academia, por isso ignoraram a existência de Yakusoku no Neverland, que já vendia muito bem, mais que Black Clover e Kimetsu no Yaiba. Dificilmente os editores mudaram de ideia nesse período. Talvez, e digo talvez, pois nada é certo nessa vida, os editores estejam disposto a dar um grande destaque para a série, mas sempre deixando-o como um semi-pilar. Por isso devemos viver com a possibilidade que talvez a Weekly Shonen Jump não tem planos em transformar Yakusoku no Neverland em um verdadeiro pilar, diferente de Kimetsu no Yaiba.
E as demais séries podem se tornar pilares? Shokugeki no Souma está caminhando ao seu cancelamento, e nunca chegou a se tornar um pilar na revista. Talvez por um leve período era um dos semi-pilares, mas é complicado definir bem a importância da série para os editores. De qualquer modo, Shokugeki no Souma era importante para a revista e ainda vende muito bem. Black Clover, por mais que seu anime tenha um sucesso gigantesco, não vemos a série deslanchando na revista e seu mangá (ignorando o anime) não tem uma popularidade tão grande assim dentro do Japão, por isso em minha opinião restará sempre como um semi-pilar borderline (no limite para ser considerado semi-pilar) da revista, posição que não deixa de ser importante – Atualmente temos só dois mangás com tal título: Yakusoku no Neverland e Black Clover – Já as demais séries ainda vende muito pouco para podermos tirar verdadeiras conclusões, quem sabe com um anime de grandíssimo sucesso Dr.Stone, Jujutsu Kaisen ou Act-Age conseguem se tornar os pilares que irão “roubar” a vaga de Haikyuu!!, ou quem sabe, dependendo da circunstância um deles se torna um quarto pilar. Se eu tivesse que realizar uma previsão, eu acho que terminaremos o ano de 2019 com os mesmos mangás como pilares, e vendo o crescimento em vendas, poderemos observar a entrada de Kimetsu no Yaiba com o anime na disputa da vaga de pilar ou semi-pilar em 2019.
História de Natal [1]: Por que a miniatura do Analyse It é o Deku? Muitos podem pensar que o motivo é que eu, Leonardo Nicolin, sou um grande fã de Boku no Hero Academia e decidi homenagear a série, transformando o Deku no mascote do site, porém, mesmo que essa desculpa poderia funcionar, passaria longe de ser a verdade. O real motivo pelo qual “Deku” é o mascote do Analyse It e ao mesmo tempo a miniatura do site é bem simples: O site em 2014 ainda utiliza a miniatura do Blogger, e eu percebi que estava na hora de colocar uma miniatura mais personalidade, deste modo temporariamente decidi colocar a capa da última edição da Weekly Shonen Jump, que tinha sido lançada no mesmo dia dessa decisão, e por uma coincidência incrível, era a semana da ESTRÉIA de Boku no Hero Academia, que acabou se tornando um dos principais mangás da história da revista. Eu não tinha nenhum plano em manter Deku como miniatura, mas como a série acabou dando certo e eu acabei gostando muito do protagonista, decidir manter para sempre o personagem como nosso mascote.
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