O terceiro ano do Analyse It.
Debaixo do chuveiro, Chico Buarque compôs um dos seus maiores sucessos: Cotidiano. A monótona canção do senhor Francisco conta a história de um homem que se vê infeliz e sufocado dentro da própria vida, contudo, por mais que esta vida não lhe agrade mais, por estar alienado aos padrões de vida impostos pela sociedade, não consegue se destacar dessa realidade que o esmaga.
A sociedade, em grande parte das obras artísticas, se torna um inimigo que age na inexistência material: Tu não a vê, não a sente e não a toca, mas mesmo assim, ela está condicionando a sua vida em uma direção que muitas vezes tu não quer seguir. Os protagonistas de muitas histórias nascem desse desejo incontrolável de se erguer contra o “status quo”, dizendo de maneira mais simples, o mundo que lhe circunda. E é ao seu revoltar, contra esse mundo que lhe impõe padrões, que nasce a maioria dos heróis que conhecemos. – Naruto, por exemplo, era somente um pequeno garoto excluído, mas o seu ato de rebeldia o fez se tornar um “hokage” da sua vila.
Acabamos nos identificando com esses heróis, pois todos os seres humanos são ou foram rebeldes em algum momento. A inclusão na sociedade não é fácil, cada conceito é imposto a nós desde quando somos pequenos, e nossas primeiras reações a muitos destes conceitos é a rejeição. Sim, muitos do que achamos certo, inicialmente não queríamos aceitar, contudo, para podermos agir socialmente e mantermos a nossa vida estável, acabamos realizando que é necessário viver dentro desses esquemas. Quando vemos um herói rejeitando certos aspectos sociais que consideramos errados, mas que mesmo assim não temos coragem de ir contra, nos sentimos representados. É como o nosso “jovem” rebelde, enterrado pela conformidade, conseguisse renascer dentro daquele herói, e por algumas páginas, sentíssemos como estivéssemos lutando contra o mal.
Entretanto, a pior imposição possível é aquela que vem de você mesmo. Ás vezes, nos acomodamos tanto a cotidianidade criada por nós, que acabamos evitando qualquer tipo de reinvenção. Não é que não queremos mudar, mas acreditamos que não temos mais “tempo” ou “disposição” para tentar algo novo, gastamos muitas energias no costumeiro, e o que nos resta é a lamentação que o diferente não pode ser realizado. Preferimos viver em praxe, do que morrer se reinventando.
Querer o “novo” não significa exatamente que o “velho” esteja ruim, sem cor, ultrapassado, de modo algum. Significa que estais sendo humano, e por mais que a sua conformidade esteja te impondo a rotina, tu quer inventar, quer aprender e quer sempre tentar algo que desperte o seu senso de curiosidade e inovação. O ser humano aprende a obedecer as regras, seguir conceitos e idolatrar estilos de vida, mas ao mesmo tempo que aprendemos a viver dentro da bolha, o nosso instinto diz o contrário: Precisamos criar e inventar. É necessário explodir com um pequeno palito de dente, cada bolha que circunda a nossa vida cotidiana. Porém, como realizar esta ação, sem quebrar a uma rotina, que talvez, tu acredite que te faça bem? Infelizmente a reinvenção pessoal te obriga a entrar em um estado de aceitação. É necessário aceitar que se deve perder certas características, abdicar de certos vícios e quebrar certas rotinas, para assim conseguir criar novos cotidianos – O novo “eu” vem da profanação do seu “eu” antigo, tu deve ser rebelde, o herói que vai contra a sociedade, que neste caso, é a sua própria acomodação – E neste ato cruel, de rompimentos e desfeitas, tu poderá escolher o que do cotidiano antigo te faz bem, e o que não.
Alguns dias atrás, comecei mais um ato de “reinvenção” na minha vida. Não chegou a ser tão grande quanto abandonar o Brasil e vir viver na Itália, contudo, não deixa de influenciar na formação de um novo cotidiano. Decidi, deste modo, ser aquele herói de quadrinho, e nesta luta contra mim mesmo, percebi que algumas colunas do Analyse It precisavam ser abatidas, pois chegou um ponto que eu as escrevia mais pelo que “os outros querem ler”, do que realmente sobre “o que eu quero escrever”, como por exemplo era o caso da Ultra Jump, que sinceramente eu estava escrevendo somente para corresponder os pedidos de muitos leitores.
Antes de citar as mudanças, deixarei claro os pontos do Analyse It que me agradam o bastante para ser mantidos: TOC da Shonen Jump, Shonen Magazine e Jump SQ – Todos esses três serão mantidos, pois simplesmente amo escreve-los, contudo, utilizarei novas técnicas de análise. Pretendo trazer mais as visões dos japoneses, deixando ainda mais concreta e informativa os comentários sobre cada série que compõe essas três revistas. Sempre me recusei a trazer análises rasas, com opiniões vazias e cheias de “achismos”, todas as minhas análises se baseavam em dados concretos, como vendas e opiniões de fóruns japoneses que podiam trazer informações claras e críveis sobre a funcionalidade dessas revistas. O meu objetivo então, é melhorar o que eu já acho que está bom. Quero e trarei mais informações e dados sobre a visão japonesa em cada uma das obras.
Já as mudanças serão bem mais significativas. Em 2015 realmente afundei no cotidiano, continuava repetitivamente a escrever matérias sobre os TOCs, e evitava o máximo possível trazer matérias especiais. O motivo? Não conseguia achar tempo em escrever algo diferente no meio do cotidiano, como eu já expliquei nos parágrafos “filosóficos” acima, me condicionei a minha própria rotina. Deste modo, o Analyse It neste terceiro ano de vida vai RETOMAR a seu objetivo inicial: Trazer reflexões, análise e informações sobre o universo dos quadrinhos em geral, seja japonês, americano, brasileiro ou europeu, e também retomarei as reflexões, onde usando como base os quadrinhos irei discutir problemas que assolam a nossa sociedade, questões que são expostas na nona arte e que qualquer pessoa que a aprecie não pode se atrever a ignorar. Os parágrafos acima foram uma pequena amostra como serão escritas e publicadas as “reflexões ocasionais”.
E para encerrar, deixarei o meu maior vício de lado, que é publicar somente os meus textos, a partir de domingo, o dia que publicarei uma matéria extremamente informativa do Siul, o Analyse It começará a ter ajudantes, ou melhor “Gehilfens” (Sim, é uma referência a Kafka), pessoas que entendem muito da área e poderão distribuir conhecimento aos leitores do blog. Siul, por exemplo, é uma pessoa que entende tanto sobre a área que é na verdade uma honra para mim haver-lo como “Gehilfens” do Analyse It. E espero que em breve outras pessoas aceitem escrever matérias ou até mesmo reflexões aqui.
Amo escrever sobre o TOC, principalmente da Shonen Jump que acompanho a anos, contudo, a nona arte é tão vasta que seria uma ofensa não discutir-la no Analyse It, só porque fico preso ao meu cotidiano. Acredito fielmente que com essas mudanças, não só vocês irão ganhar com os novos conteúdos, como eu, vendo a visões de vocês nessas novas discussões que iremos portar ao blog, acaberei expandindo ainda mais o meu conhecimento sobre a área. Muito obrigado pelo seu tempo de leitura, e até a próxima matéria.
Ass: Leonardo Nicolin.