Comercialmente falando é a decisão correta a se fazer, podem estrear no lugar um mangá com grande chances de vender muito mais – Mas pensando no lado mais artístico do negócio, com certeza é uma decisão duvidável, isso porque você está cancelando uma obra que por mais que não dê tanta visibilidade (Nem no aspecto comercial, nem no aspecto em sucesso como críticos), entrega a revista algo diferente, deixando o conteúdo da Shonen Jump bem muito mais interessante para aqueles que gostam de ler obras que são mais artísticas do que de fato comerciais – Você pode se perguntar, se essas obras voltadas mais ao fundo artistico também não dariam visibilidade, teoricamente sim, porém isso com um público mais adulto.
Muito mais do que “Give It All”
Para os acompanhadores mais assíduos da Shonen Jump, um dos motivos de acompanhar o TOC quase todas as semanas, é ver o rendimento das séries novas, ver se elas conseguirão se manter na revista ou caíram no buraco do “cancelamento”, mas infelizmente a maioria dos mangás caem nesse buraco, muitas vezes, sem volta – Mas será que o sistema de cancelamento é realmente assim cruel? Será que todas as revista são tão imediatista como a Shonen Jump? É sobre isso que eu quero refletir.
O cancelamento é uma situação, natural para qualquer revista, para estrear novos mangás, é necessário que outros sejam encerrados ou cancelados, cada revista tem seu número fechado de vagas, não podendo superar um certo número de mangás na sua “line-up”, na Shonen Jump atualmente são um total de 20 séries, outras revistas tem um número um pouco mais alto, algumas 22 séries, outras 25 séries. Os editores de nenhum podem superar esse número pré-estabelecido, para assim não dar espaço da revista ir aumentando, aumentando, até chegar em um ponto que fique inflada e sejam obrigados a cancelar vários mangás sem nem ao menos poder colocar uma outra obra no lugar, resumindo, terão somente perda de conteúdo.
Por causa dessa regra, tivemos grandes perdas nos últimos anos da revista: Soul Catcher (S), Cross Manage, Mitsukubi Condor, Illegal Rare, Shinmai Fukei Kiruko-San, Koisomi Momiji, entre muitas outras obras que ainda tinham espaço para evoluir e conquistar o público. Mas, esse sistema é cruel mesmo? Para isso, vou pegar o sistema de outras revistas um pouco menores, como a Young Jump, onde antes de cancelar uma obra que provavelmente é um fracasso completo, os editores ao menos deixam o mangá completar 30 capítulos, por isso ter ao menos 6 meses de vida na revista. A Shonen Magazine, que é a segunda revista mais vendida da atualidade, também prefere utilizar um sistema menos cruel na hora de cancelar o mangá, deixando-o se desenvolver por mais ou menos 30 capítulos antes de passar a “foice”. A Shonen Jump prefere deixar o mangá sobreviver entre 16 a 24 capítulos, antes mesmo de joga-lo no buraco dos cancelados.
O motivo da Shonen Jump utiliza esse sistema de cancelamento tão rápido, é a sua necessidade de encontrar sempre novos sucessos, a muitos tempo que a revista deixou de ser focada na qualidade das obras, atualmente só temos dois mangás mantidos na revista unicamente por sua qualidade e não pelo seu apelo comercial, que são Isobe Isobee Monogatari e Hinomaru Zumou. O foco principal dos editores da revista é maximizar o lucro da revista, para isso devem entregar uma revista diversificada e com muitos mangás, mas muitos mangás com apelo comercial. Dos 20 presentes na revista, no mínimo 14 devem ser comercialmente viáveis para a Shonen Jump continuar dando certo – Assim mesmo com a constante mudança de grupo editorial (É imaginado que cada 5 anos o grupo editorial da Shonen Jump já deve ter mudado por mais ou menos 70%), a ordem é sempre a mesma, continuar lucrando, lucrando e lucrando.
A Shonen Jump assim percebeu que raramente mangás que chegam aos seus 16 capítulos com baixa popularidade conseguirão recuperar-la, assim preferem cancela-los e dar uma oportunidade para uma outra obra. O problema é quando temos obras que são queridas pelo público, adicionam algo mais a revista, como era o caso de Soul Catcher (S) e Cross Manage, mas por não serem tão comerciais, preferiram ser cancelados – Isso por que esses mangás por mais que poderiam adicionar muito a revista, faltavam um elemento que salva os mangás com popularidade baixas, mas que tem uma alta qualidade em história, o apoio dos críticos – Diferente de Soul Catcher, por exemplo, Hinomaru Zumou e Isobe Isobee Monogatari tem um grande apoio dos críticos, assim dão de certo modo “status” para a revista. Mas é certo cancelar esses mangás?
Um filme de Xavier Dolan (Diretor jovem e com filmes belíssimos) consegue agradar muito mais o público adulto ou mesmo o público jovem que tem gostos mais adultos, o mesmo vale para os mangás – O público que gosta de obras mais pessoais (Como era Cross Manage) ou que tratam de assuntos mais históricos e reflexivos, são leitores que estão chegando na vida adulta ou mesmo que já fazem da parte da vida adulta, por isso tem mais de 25 anos, em uma revista Shonen isso raramente tende a dar certo – Não estou dizendo que Cross Manage daria certo na Young Jump, mas com certas adaptações, o mangá teria muito mais chance de conseguir sobreviver na revista – Inclusive, a Young Jump ou a Ultra Jump são duas revistas que tem a tendência a lançar e manter mangás com temáticas mais “cultas”, mesmo que não sejam tão comerciais, por exemplo, Innocent na Young Jump ou Ad Astra na Ultra Jump. Outra revista da Shueisha perfeita para obras nesse estilo é justamente a Grand Jump que tem uma quantidade gigantesca de leitores acima dos 30 anos.
O mundo do cancelamento é cruel, em um ano, os editores estão constantemente em busca de obras comerciais, na Shonen Jump são lançadas em 90% das vezes, obras que eles acreditam que terão um grande apelo comercial, o que não significa que muitas vezes essas obras com apelo comercial ato, também não tenham um conteúdo artístico de alta qualidade – Temos como por exemplo Ansatsu Kyoushitsu que por mais que seja focado na comédia, preserva por trás das estratégias comerciais uma ótima crítica social – O mesmo vale para One Piece que sempre tenta passar alguma mensagem em sua sagas, mesmo que 90% dela seja focada justamente nos elementos B-Shounens – Mas a Shonen Jump não irá mudar, continuará procurando mangás que tenderão a vender muito no Japão e se tiverem também sorte (e qualidade) no exterior.
Eu preferiria que a Shonen Jump adotasse o sistema da Young Jump, reserva mais vagas para mangás que prezam mais pela qualidade do que pela popularidade, gostaria que os editores lançassem mais obras pensando em como elas serão bonitas e interessantes ao leitores do que quando elas poderiam trazer lucro, eu preferira que a Shonen Jump também diminuísse a quantidade de levas ao ano, ao invés de estrearem 12 mangás ao ano, estreassem 8 mangás, assim dando mais tempo para cada autor desenvolver lentamente suas obras e ao mesmo tempo dando espaço para os mangás mais veteranos ganharem capas e publicidade, mas isso não vai acontecer, porque vivemos em um mundo capitalista e a Shonen Jump atualmente é grande como é porque sempre pensou em lucrar acima de tudo. Para nossa sorte, muitos mangás comerciais são de ótima qualidade (Shokugeki no Souma, Haikyuu!!, Ansatsu Kyoushitsu, entre muitos outros)… O que não muda o fato de que o sistema da Shonen Jump é o mais cruel (e infelizmente comercialmente eficiente) de todos. Em um ano, é normal vemos entre 80% a 100% dos novatos serem cancelados com menos de 30 capítulos, um número assustador, sendo que estreiam 12 mangás ao ano.
Aliás, eu estou percebendo que nesse último ano, os editores começaram a lançar constantemente levas de 3 ou 4 mangás, isso é com certeza uma mudança de mentalidade dos editores, em quererem que a revista fique ainda mais frenética (Um jeito de responder de modo desesperado a queda de vandas da Shonen Jump e também um modo de se preparar para o final de obras como Ansatsu Kyoushitsu, Bleach, Gintama e Nisekoi) ou mesmo pode ter sido uma gradual mudança editorial, fazendo assim que atualmente o conselho prefira apostar mais em mangás novatos do que preferia a mais ou menos 1 ano atrás. A verdade é que para a Shonen Jump é mais vantajoso aumentar a crueldade dos cancelamento, fazendo assim que mais obras terminem precocemente, do que lançar obras menos empacotadas em clichês de vendas (Como era Death Note, que vendeu muito mesmo assim) ou mesmo dar um espaço para essas obras que começaram mal, terem tempo de corrigirem seus erros e melhorar… Aliás, caso eles entregassem aos autores uma liberdade criativa e mais tempo para desenvolver bem suas séries, por exemplo dar uma garantia que não iriam cancelar suas obras antes do capítulo 25, teríamos muito mais mangás que conseguiriam se tornar um grande sucesso.
Só que é mais vantajoso lançando 12 obras ao ano, temos mais chances de achar sucesso imediatos do que lançando 8 obras ao ano e dando tempo para elas se desenvolverem, essa é a triste realidade. A Shonen Jump continuará mantendo o seu sistema bem cruel, pois é eficiente, mas o que podemos esperar é somente que no meio de vários mangás que serão lançados com o único proposito de vender, nasça um pequeno Hinomaru Zumou, que por mais que não seja comercial, consegue agradar os críticos de um modo que se torne importante mante-lo na revista para dar bem mais status.