“Je connais mes limites. C’est pourquoi je vais au-delà”
“Eu conheço meus limites. É por isso que eu os ultrapasso” – Começo este texto com uma frase de um compositor francês, Serge Gainsbourg, frase que ao meu ver combina muito bem com as charges de Charlie Hebdo – Tendo a fazer na maioria das vezes reflexões voltadas totalmente ao universo japonês, havia já uma reflexão programada para esta semana, mas decidi mudar o foco, peço desculpas a quem esperava algo voltado ao Japão, mas ao meu ver, é o momento de refletir sobre liberdade de expressão na arte – Aconteceu nesta semana, na quarta-feira um atentado terrorista ao jornal: Charlie Hebdo, vocês já devem saber disto.
Após este atentado terrorista, começou-se uma grandíssima discussão sobre a “Liberdade de Expressão”, além de um grande campanha xenofóbica contra os muçulmanos em geral, muitos locais de cultos sofreram represálias da população francesa, que esta aterrorizada com esta onda de ataques terrorista que afligem toda a frança. Mas, no final das contas, até onde vai a liberdade de expressão? Até quando podemos ofender uma cultura? E até que ponto a arte pode ser livre?
O jornal satírico, Charlie Hebdo, que publicava somente 60 mil unidades a semana, sempre foi conhecido por critica de forma irônica vários aspectos da sociedade, seja eles religiosos ou não. Mas logicamente, os que mais polemizaram foram as suas criticas religiosas, em grande parte a igreja cristã, satirizando a figura do Papa e de Jesus Cristo. E suas criticas ao Islamismo, novamente satirizando figuras, desta vez a de Maomé, o último profeta islâmico que veio logo após o profeta Isa (Nome árabe para Jesus Cristo).
Em várias charges, o jornal brincou com a imagem de Maomé, o que é uma ofensa enorme para a religião islâmica, que diz que é proibido haver demonstrações visuais do profeta. Assumo, várias charges são hilárias e tem uma critica fantástica, outras banalizam a imagem do profeta, somente para “provocar” os fiéis seguidores da religião, que no mundo tem mais de 1.5 bilhões de praticantes, 23% da população mundial.
Até onde vai a liberdade de expressão? Charlie Hebdo sempre foi um jornal que pregou tanto por essa liberdade, deste modo tentou tratar de assuntos polêmicos, ao meu ver, exagerando em alguns pontos, mas continuando a ser livre – Para comprovar a sua coragem em dizer tudo que pensa, do modo mais satírico possível, zombou e ridicularizou a religião islâmica, até eu que sou Agnóstico, achei algumas piadas bem desnecessárias e pesadas.
Até quando podemos ofender uma cultura? Se já não bastasse desrespeitar a religião, zombando de seus deuses e profetas, Charlie Hebdo sempre mostrou os islâmicos como terroristas, em cada charge em que satirizavam este grupo minoritário, ou não, em cada charge, eles estavam segurando armas e dizendo palavras relacionadas a “explosão” ou “assassinato”. Deste modo, aumentando o preconceito que já temos em relação este grupo.
Até que ponto a arte pode ser livre? Por mais que discordemos e achamos ofensivo a visão politica, social e religiosa de uma pessoa, temos o direito de tirar-la a vida? Sim, a arte e a escrita é um meio poderosíssimo de manipulação da massa, mas mesmo assim, a censura com espadas, é muito, mas muito mais cruel e desumana… É retirar do homem, o direito de poder dizer o que ele pensa.
Mesmo não concordando de nenhum modo do conteúdo, que tinha como objetivo claro “banalizar” o islamismo, mesmo sendo totalmente contra o conteúdo preconceituoso, racista e xenofóbico da Charlie Hebdo, levando a minha bandeira pelo direito deles dizerem e gritarem as suas visões sobre o mundo, sobre o islamismo.
Como diz Evelyn Hall, escritora da biografia de Voltaire: “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dize-lo” – É necessário defendermos a nossa liberdade de poder gritar qualquer coisa, de qualquer tom, de qualquer maneira… Podemos sofrer algumas consequências pelos nossos atos, consequências dentro da lei, em nenhum modo aceitarei o fato de alguém ser assassinado por expor a sua visão.
É impossível criar um humor politicamente correto, sem ofender ninguém… Todos nós temos pontos fracos, deste modo, todo humor haverá um momento que poderá nos atingir, nos ofender. Devemos, como militantes de nós mesmos, lutar para que este humor que nos ofende seja erradicado da nossa sociedade, podemos fazer isto de milhares modo, protestos, palestras, campanhas, projetos sociais e vários outras maneiras, mas nunca, nunca com repressões tão, mas tão, bárbaras.
Infelizmente, estes três extremistas só colaboraram para prejudicar a própria causa, aumentando este preconceito crescente do europeu em relação aos muçulmanos, centenas ou milhares de inocentes sofrerão por culpa de três pessoas. A mídia neo-nazista conservadora esta aproveitando este momento para aumentar a xenofobia, um proselitismo barato, entregando ao povo o ódio que eles querem que o povo sinta e muitos estão caindo, como peixes, na isca de minhoca. Não podemos jogar a consequência de ato de um grupo de sociopatas extremistas, em um grupo de pessoas que são inocentes e que com certeza não compactuam com a mesma visão que estes loucos.
Até onde vai a liberdade de expressão? Ora pois, meus amigos, não preciso responder esta pergunta… “Liberdade de Expressão”… Ela não diz por si só até onde ela vai? Sim, ela diz. Então, que sejamos livres, que tenhamos em nossas mãos esta liberdade que ainda, por principalmente pressão da sociedade, não conseguimos alcançar. Não existe liberdade com algemas.
Até quando podemos ofender uma cultura? Sou contra a qualquer ofensa, seja a um grupo minoritário ou majoritário, mas mesmo assim até inconscientemente ofendemos alguém de algum modo, todos nós temos preconceitos. Deste modo, repito, é necessário combater qualquer meio de comunicação que propague e exalte reações descriminatória. Assim como sou rigorosamente contra a esta mídia neo-nazista que esta exaltando o ódio contra os islâmicos, aproveitando da medo do povo, sou contra as charges de Charles Hebdo que generalizava os muçulmanos como se todos fossem terroristas, porém devemos combater estes meios de comunicação descriminatório de forma civil, respeitando de todas as formas as leis.
E até que ponto a arte pode ser livre? Bem, ao meu ver o homem não deve ser totalmente livre. A liberdade é muito perigosa, neste atentado terrorista vimos seres humanos matando outros seres humanos, uma espécie que por motivos religiosos, se digladiam como bestas selvagens, mas a arte, como um meio que não fere fisicamente, somente transmite ideologias, deve seguir a risca a definição da palavra “liberdade”.
Por fim, peço a vocês que abracem esta tão bonita frase, chamada “liberdade de expressão”, acredite a sociedade lutou muito para conseguir ter o direito de falar, ainda temos muito para lutar, a total liberdade de expressão não foi alcançada. Sentir-se livre de expressar a sua visão ideológica, como também sentir-se livre de discordar da visão dos outros é a verdadeira liberdade… Mas ao mesmo tempo que peço que vocês abracem esta linda frase, peço que vocês cuspam para longe dos seus corpos ébrios a frase: “liberdade de ação”, pois se não estaremos aceitando o direito de tirar a vida de quem quisermos. E encerro esta reflexão com uma frase do grande poeta inglês, John Milton:
“Acima de todas as liberdades, dê-me a de saber, de me expressar, de debater com autonomia, de acordo com minha consciência”.