Fotografias mentais, por mais que distorcidas, sempre serão mais românticas que as fotografias materiais.
Enquanto eu folheava o livro “Admirável Mundo Novo”, várias lembranças e pensamentos vieram à tona. Minha mente foi dominada por imagens de acontecimentos, sejam eles fatos vividos ou mesmo cenas fictícias de uma obra que me marcou.
Cenas que ao passar dos anos continuaram a ter um belo significado, o seu romantismo foi mantido, mesmo que modificado ou até distorcido da percepção inicial – Muitas vezes esta fotografia mental que temos sobre a situação em questão não é realista, é uma versão intimista sobre a obra.
E é por isso que as fotografias mentais são mais magníficas que a própria obra mãe, pois a fotografia é a sua visão, coberta de sentimentos sobre aquilo que te marcou. O final de Digimon sempre terá em meu mundo, em minha rede de sentimentos, um significa extremamente “unique”. Pois, quando eu recorrer as minhas memórias sobre aquele fim, deste maneira, também estarei recorrendo não só a cena do anime simplesmente, mas a toda a atmosfera circunstante que incluía o fato de eu estar na frente da TV após um dia cansativo de escola, entre outros pontos e vírgulas do dia em questão.
No final, incorporamos esta obra que tanto nos marcou ao nosso modo de enxergar o mundo… A nossa intuição sobre tudo que vier à tona é de certa forma influenciada por essa memória vivida. Ela deixa de ser um simples documento e se torna um monumento para o leitor.
Mas porque distorcemos estas memórias ao longo dos anos? Infelizmente a mente humana é falha, todas as imagens que formam uma lembranças são feitas de traços desenhados… Vários rabiscos formados por fatos, sentimentos e percepção – O nosso próprio traço mental.
Quando um mangaká desenha um mangá, ele coloca na arte a sua própria visão sobre o que ele imaginou, utilizando as suas técnicas e o seu estilo – Assim, a arte final é o fruto de uma junção de imaginação, técnica e percepção.
A “grande beleza” (Tão desejada pelo Jap Gambardella) que procuramos em cada mangá, depende unicamente de nós, leitores – Tanto procuramos a página perfeita, mas esquecemos, que cada página ali adicionada é a exposição, talvez não tão clara, da intuição artística do autor – Resta a nós, intérpretes conectarmos ou não a sua intuição.
Por isso, A grande beleza é pessoal, intima… Nada mais! O belo só é visto por aquele que sabe reconhece-lo e também reconhecer-se… Uma questão de unção entre o emissor (O artista) e o receptor (O leitor).
Poucas obras de mangá conseguiram me conectar emocionalmente, uma delas é Nana! Romance/Shoujo escrito por Ai Yazawa conseguiu perfurar o meu coração e laçar-me a obra de um maneira rápida e devastadora.
O simples nome do mangá me traz uma explosão de fotografias mentais das páginas dos mangás e das cenas do anime… Infelizmente, junto com estas boas lembranças, vem a lembrança de que Nana nunca teve um fim. A autora por motivos pessoais se afastou do mundo dos mangás e abandonou a obra inacabada.
Enquanto alguns artista conseguem com extrema facilidade produzir novos materiais, exemplo Mashima (Fairy Tail) que acabou de anunciar que irá criar um novo mangá que será lançado simultaneamente com a sua obra atual, Fairy Tail… Outros artista precisam de tempo e concentração enorme.
Ai Yazawa é um bom exemplo destes ultimos, é visto no próprio mangá Nana que a percepção da autora sobre o amor, o mundo… Sobre a vida, era bem depressiva. Por isso cada vez que ela se conectava para escrever aquela obra, exigia uma grande carga emocional.
Não estou dizendo que Mashima é um escritor raso, e sim que ele há uma capacidade maior em se conectar e também se desconectar da sua obra, trazendo talvez uma percepção mais neutra, menos intima sobre o mundo.
Quando a autora se conecta de tamanho modo que todas as suas percepções são expostas no mangá, ela se torna tão parte do mangá que o seu segmento irá influenciar em tudo em sua vida. Inclusive até mesmo em sua própria saúde.
No final, Ai Yazawa criou um mangá tão profundo que nós, verdadeiros leitores de Nana, não somente conseguimos visualizar a grande beleza presente na obra, mas conseguimos incorporar o seu traço mental em nossas intuições diárias… Se tornarmos fruto da intuição de Ai Yazawa.
Ao recorrer as fotografias mentais sobre Nana… Respiramos, ofegantes por tudo que vivemos… Sim, tudo vivemos naquela maravilhosa obra!