O grande Rei Besouro.
Chegou o momento de analisar os três mangás que estrearam na revista em abril e maio de 2020 – Escreverei nos próximos dias o “Vale a Pena Ler!” de Shinrin Ouja Moriking, Bone Collection e Time Paradox Ghostwriter. Vamos começar por Moriking, mangá de Tomohiro Hasegawa, autor de Spring Weapon Number 1, série de comédia lançada em 2016 na WSJ, e que durou 7 volumes. O autor após um pequeno fracasso (não podemos considerar um mangá que durou 7 volumes um grande fracasso) retornou para a revista com uma nova comédia. Porém, mesmo sendo um novo mangá, podemos dizer que Tomohiro Hasegawa manteve a maioria das suas características principais, que já tínhamos observado na sua obra anterior.
Para quem não conhece esse quadro: O “Vale a Pena Ler” é o substituto do antigo “Primeiras Impressões” no qual eu analisava o primeiro capítulo de uma nova série da Weekly Shonen Jump. Nesse quadro eu comento os primeiros sete capítulos da série, que seriam referentes ao primeiro volume de um mangá. E também comento o que o público japonês está achando da série e suas chances de sobrevivência.
Alguns de vocês podem pensar que 7 capítulos não é o suficiente para julgar uma série, porém na verdade é: Como dito a dois anos atrás pelo editor da Weekly Shonen Jump, várias vezes os editores decidiram cancelar uma série após a recepção ruim dos seus três primeiros capítulos. E o público japonês, após cinco ou sete capítulos de ruim qualidade tende a abandonar uma série. Aliás não só o público japonês, vimos através dos leitores do site, que uma série com uma recepção ruim tende a perder mais da metade dos seus leitores em apenas 7 capítulos. Deste modo, os sete primeiros capítulos são um ótimo ponto para analisar o início de uma série, e ver suas chances de sobreviver na revista.
PREMISSA:
Shinrin Ouja Moriking é um mangá de comédia tradicional; o que isto significa? Antigamente os mangás “Gags” eram série com traços extremamente simples, com várias piadas exageradas e cenas absurdas, podiam parodiar algumas outras séries ou cenas do cotidiano, e tendiam a não ter arcos, somente capítulos auto suficientes. O problema é apresentado no início do capítulo e é resolvido na sua conclusão. Em alguns casos víamos um desenvolvimento de um arco que durava, no máximo, três capítulos. Por isso, quando nos referimos a mangás de comédia tradicional, nos referimos a mangás que utilizavam uma comédia similar aquela que era de grande sucesso dos anos 60 até os anos 90.
Com o passar dos anos vimos as comédias evoluírem para séries mais complexas: Séries que mantenham como principal objetivo estimular os leitores a gargalharem, mas adotavam elementos de outros gêneros: Vimos surgir mangás como Gintama e ONE PUNCH-MAN, que absorviam elementos da comédia. Vimos SKET Dance e Gin no Saji que absorviam elementos do “Slice of Life”. e temos tantos outros exemplos, posso passar uma eternidade citando mangás de comédias mais modernos. A arte desses mangás também tendiam ser mais detalhadas que as comédias tradicionais.
Shirin Ouja Moriking, deste modo, não pode ser comparado com Gintama ou SKET DANCE, nem com seu companheiro de revista MASHLE, por exemplo. São duas comédias totalmente diferentes e que tendem agradar também público diferentes. A premissa de Shinrin Ouja Moriking, é conta a história de um Besouro que assume a forma humana e que tem como objetivo se tornar o “Rei da Floresta”, mas para isso deverá formar um reino próprio e vencer os seus outros concorrentes ao trono. Tudo isto é contada de modo simples, leve e louco, como uma comédia tradicional normalmente é.
A série também evita caminhar em discursos mais adultos: Até mesmo relacionada a perversão, tema que os japoneses amam, é bem “light”. O motivo é que Shinrin Ouja Moriking se propõe também alcançar o público mais jovem da revista, aqueles Pré-Adolescentes que finalmente estão mergulhando no universo dos Shounen. Eu diria, deste modo, que a premissa do mangá é entregar uma comédia tradicional e também familiar, no qual um público de todas as idades pode acabar se divertindo, não somente os jovens adultos.
HISTÓRIA:
A narração de Shinrin Ouja Moriking segue um esquema muito parecido com Spring Weapon Number 01, obra anterior do autor, porém eu acredito que ao menos nessa nova obra, o timing das piadas está mais acertado. O motivo são dois: O autor está mais experiente e os personagens apresentados tem uma sinergia muito melhor, do que na sua obra anterior.
No primeiro capítulo da série conhecemos dois personagens secundários (Shota e Shoko), que vão seguir Moriking em todos os sete primeiros capítulos do mangá. Esses dois personagens são dois irmãos que estavam criando um pequeno besouro, que do nada se transformou em um humanoide, com detalhes de Besouro. A partir desse momento vemos a relação desses três sendo desenvolvida: Enquanto Moriking vai conhecendo o mundo dos humanos e se preparando para se tornar rei, Shota, tenta dar do bom e melhor para sua criatura, e sua irmã, Shoko tenta desesperadamente se livrar de Moriking.
A maioria das piadas giram em torno justamente a absurdidade da situação: Talvez o que deixa a série engraçada é justamente como Shoko, a irmã mais velha do jovem Shota, percebe que o que ela está vivendo é irreal, absurdo e totalmente perigoso. O protagonista, Moriking se torna engraçado justamente pela sua continua expressão de realiza e indiferença, pelos seus poderes sobrenaturais (Já que ele “herda” a resistência de um besouro) e de certo modo pela sua inocência, já que não consegue entender parte das interações humanas.
Só que a série não gire em todo somente a três personagens. O mangá também depois apresenta outros personagens secundários, que devem se tornar muito importante ao decorrer da história: Os pais de Shota e Shoko, com destaque para o pai, que tenta manter o controle, mas falha continuamente. E temos também nesses primeiros 7 capítulos, a apresentação da Rainha Louva-Deus, que seria uma das inimigas de Moriking. O autor dedica dois capítulos em desenvolver essa personagem, antes de torna-la parte integrante da história.
Deste modo, o roteiro obviamente não é complexo, muito pelo contrário, usufrui de uma simplicidade que é essencial para que o público mais infantil consiga também aproveitar a comédia da série. Talvez várias das suas piadas sejam muito previsíveis, outras banais demais para quem gosta de um humor mais pesado ou requintado, mass Shinrin Ouja Moriking, lembrando, não se propõe a isto, e no que se propõe, um humor mais leve e simplificado, eu acredito que conseguiu realizar um bom trabalho.
E mesmo em sua simplicidade, o autor apresentou já detalhes de um universo que pode ser expandido, evitando que a série entre em um ciclo de repetições eternos: Ninguém aguentaria mais de 10 capítulos no qual sempre vemos Moriking sendo um Besouro-Humano extremamente estranho. Por isso, o autor varia sempre entre uma pequena sequência de capítulos no qual os personagens já conhecidos passam por situações inusitadas, e a apresentação de novos personagens, que podem ser seres humanos ou misturadas entre insetos e seres humanos.
E é justamente por adicionar mais personagens humanoides e metamórficos, que a história um pouco mais interessante: O leitor, que está gostando do mangá, não está simplesmente rindo das várias piadas que a série entrega ao longo dos seus quadros, mas também fica curioso em saber quais são os demais concorrentes ao trono de rei, e quais são os demais homens-insetos que aparecerão ao longo da história. Deste modo o autor consegue dar “algo mais” ao seu mangá.
ARTE:
Eu acho esse quesito importante, pois tem muitas pessoas que começam a ler um mangá unicamente pela sua arte. Moriking é uma comédia tradicional e para quem não sabe, mangás do gênero tendem a ter um traço muito simples. Dois exemplos recentes são: PSI Kusuo Saiki e Isobe Isobee Monogatari, séries de comédia tradicional que chegaram a ganhar um anime e que tinham traços extremamente simplificados.
Deste modo o que vemos em Shinrin Ouja Moriking é realmente uma arte descomplicada e que não te fará, em nenhum momento brilhar os olhos e parar para refletir quanto detalhada e espetacular é a arte desenhada por Tomohiro Hasegawa. Sim, tem cenas que são bem desenhadas até (como o quadro acima), mas nada de maravilhoso. E repito, isso não é um ponto negativo para a série, que em nenhum momento se propõe a ter uma arte detalhada e seu roteiro, leve e voltado para a comédia, realmente não precisa de quadros super bem desenhados.
O design dos personagens também não são criativos e únicos: É legal ver essa mistura entre homem e inseto, mas não é nada no nível de Terra ForMars de criatividade, muito pelo contrário, os personagens são humanos com um ou duas características de insetos (uma antena, asas ou algo do gênero), por isso eu diria que até agora, nesses sete primeiros capítulos, não vi nenhum personagem com uma mistura que me surpreendesse.
RECEPÇÃO DO PÚBLICO:
A recepção do público japonês para ter sido positiva: Moriking ganhou já páginas extras na revista e tem tudo para conseguir sobreviver a próxima leva. Como a revista está cheia de novatos, e principalmente, cheia de comédias, existe, porém, uma possibilidade real que Moriking mais a frente sofra com uma queda de popularidade, causada principalmente pela concorrência.
Além disso, comédias tradicionais tendem a ter uma rápida perda de público, principalmente quando o autor não consegue renovar muito bem as piadas e seus capítulos começam a se tornar extremamente repetitivos. Vimos nos últimos anos séries como: Samon-Kun wa Summoner, Isobe Isobee Monogatari e o próprio Spring Weapon Number 01 serem cancelados justamente por sofrerem com uma grande perda de público após seus capítulos iniciais.
Deste modo, ler uma comédia tradicional é sempre arriscado em relação a sua duração. De qualquer modo, parece que Shinrin Ouja Moriking teve uma recepção inicial boa e por enquanto está sendo bem classificado na revista. O seu primeiro volume será lançado em agosto deste ano.
CONCLUSÃO:
Shinrin Ouja Moriking é uma comédia simples, leve e divertida, que é escrita para toda a família poder aproveitar e dar boas risadas. Não se propõe a entregar cenas artisticamente lindas, não se propõe a entregar piadas de humor negro e não se propõe a fazer piadas com uma grande critica social: Repito, é uma comédia leve, divertida e simples, muito parecida com a obra anterior do autor, Spring Weapon Number 01.
O autor até está pronto para expandir o universo, apresentando muitos outros personagens que serão concorrentes pelo trono de rei da floresta, e talvez esse seja um dos pontos mais interessantes da série: Conhecer esses novos concorrentes. A série teria um potencial para introduzir inclusive cenas de ação, como batalhas entre os insetos, porém até agora o autor não bem desenvolveu este elemento. Pode ser um leque que seja utilizado mais a frente.
Sabendo disto; vale a pena ler Shinrin Ouja Moriking? Depende, se você gosta de obras desse gênero e está disposto a ler a série do modo mais descontraído possível, eu diria que você vai gostar de Moriking, mas se você estiver em busca de comédias mais modernas ou de uma leitura mais profunda, eu diria que Shinrin Ouja Moriking certamente não é uma obra escrita para ti. Moriking não é a melhor comédia no mercado, passa longe disto, mas consegue te divertir se tu estiver disposto a “viver” suas páginas com leveza e sem grandes pretenções.
Nota: 6.0